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Coluna | Era sol que me faltava | Gente demais, com tempo demais, falando demais, demais!

O título trata-se de um trecho da canção Alexandria, espero que, até o final do texto, ele faça sentido. Muito bem, hoje, vamos fazer um percurso semelhante à um diagnóstico. No entanto, ao invés de diagnosticarmos uma patologia como um fenômeno do sujeito, orgânico e/ou psicológico, vamos detectar, a partir de sinais e sintomas, um fenômeno social que caracteriza o rebanho na atualidade. A primeira pista investigatória é a de que este fenômeno não acontece de forma isolada, e é acompanhado especialmente de duas comorbidades, são elas:

A ansiedade, demarcada pela busca incessante de reconhecimento e valorização neste mundo cada vez mais competitivo, geralmente culminando em uma mágoa de viver em comparação com os outros, a que também chamamos de ressentimento. E a solidão, fruto do narcisismo que dificulta a solidificação dos vínculos, e conduz à falácia do individualismo, da customização da realidade ao meu modo, além da valorização da aparência e do espetáculo.

Pois bem, dadas as principais comorbilidades, segue agora um levante de sinais e sintomas. Existe neste fenômeno uma necessidade de produção de medo generalizado, o que usualmente conhecemos por “tocar o terror”. Para isto, um dos recursos mais utilizados tem sido a disseminação das falsas notícias (Fake News), e a “cara de pau” é tanta que o fazemos sob o pretexto da pós-verdade, como se tudo fosse apenas questão de doxa.

Outro sintoma é a tal da “Cultura do Cancelamento” que autoriza a todos, não apenas ignorar e recusar o diverso, mas autoriza o combate, como se todos fossem juízes da vida alheia o tempo todo. Vejam como existe uma série de sintomas interpenetrados, afinal, essa pretensão de “cancelar” tudo e todos, alimenta-se no ódio e na intolerância.

É característica, também, uma condição hipocondríaca, que corresponde à este movimento que estamos fazendo aqui, de patologização de tudo. Nos sujeitos isto se evidencia através daqueles que, em seus discursos, afirmam ter todas as dores as possíveis, qualquer desconforto que sentem logo transforma-se em doença e passível de medicalização, tristeza é depressão, pressa é ansiedade, organização é TOC (transtorno obsessivo compulsivo) energia e vitalidade é Hiperatividade.

Temos, ainda, a questão da violência, que se refere à uma agressividade exacerbada, tanto na comunicação quanto nas ações, mas vejam bem, aqui é especialmente sintoma o fato desta violência transvestir-se de admiração e reconhecimento, fazendo com que os sujeitos sejam capazes de enaltecer os benfeitores nas redes sociais ou com cartazes nas ruas e portões de casa e, ao mesmo tempo, basta que não sejam atendidos em alguma de suas vontades para que estejam dispostos ao embate.

Por fim, existe o sintoma da infantilização. Este é tão óbvio que chega a produzir náusea. A infantilização é caracterizada pela crença de que todos e o Estado devem me servir, tendência à simplificação de problemas sociais complexos, e aqui o sujeito realmente acredita que soluções simples resolveriam os problemas do mundo, a exemplo de andar de bicicleta, não comer carne, etc. Conduz à crença de que heróis e heroínas podem nos render enquanto sociedade.

E então, alguma ideia de qual fenômeno de “adoecimento” social estamos tratando? Última questão, este fenômeno é fortemente influenciado pelo mercado de consumo, produtor de desejo e insatisfação constante. E, também, pelas redes sociais, que assumem o papel de interlocução de todo falatório interminável.

Muito bem, se você foi capaz de identificar estes sinais e sintomas diluídos na sociedade, concordará que além de ansiosos e solitários, estamos também Histéricos. E agora, qual será o prognóstico?

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