Aos que querem salvar o mundo!
Algumas condutas e modos de pensar me causam especial mal estar. Dentre elas, essa onda de positividade e motivação que vivemos e que querem nos enfiar goela a baixo. É sim, acreditar cegamente que você é uma boa pessoa, que pode tudo na força do pensamento ou do querer, que vai mudar o mundo assumindo boas práticas, é bastante ingênuo, mas não só isso, é também irritantemente moralista. Como assim? vamos lá, eu explico.
Costumo dizer aos pacientes e clientes da clínica psicológica que é necessário compreender que grande parte da vida decorre em situações adversas e que talvez a juventude seja o época de vida adequada para visualizar a vida de forma simplista e reduzida. Sim, nessa “fase da vida” estamos mais propensos a crer em utopias, a pensar que vamos sair da casa dos pais, morar com o melhor amigo, ir e vir com toda liberdade, comer o que quiser, e dali em diante só felicidades. A vida é muito mais complexa que isso, certo?
Essa tendência, se assim posso dizer, de acreditar demasiadamente em si, avaliar-se pessoa de bem, e pensar que salvará o mundo não comendo carne, andando de bicicleta, reciclando o lixo e abraçando árvores, funda, como eu sugeri anteriormente, um problema moral. Não se trata aqui de virtuar ou desvirtuar essas práticas em si, mas o sentimento que elas produzem, sentimento de superioridade, de avaliar-se ser humano melhor do que quem não faz isso. Trata-se, no final das contas, de uma arrogância, por fazer pressupor que o mundo será salvo da destruição se toda humanidade aderir as minhas condutas. Lembrem-se de um pequeno detalhe, o mercado consome todos os segmentos da vida humana, pode criar comércio e necessidades até sobre o que você acha que vai salvar o mundo.
Com forte influência Nietzschiana, tendo sempre a suspeitar do que se autointitula “de bem”. Perguntas muito simples podem nos ajudar, a quem isto interessa? essa pessoa cuida de si com excelência? sua vida, sua casa, seu relacionamento, seu trabalho, como são? Prefiro viver ao meu modo. Além do mais, essa história do “pessoa de bem” nos é bastante conhecida, mas ela vale para ambos os extremos. Lembremos disso.
Reforço, a questão não são as práticas em si, o que se decide comer ou não, fazer ou não, o problema está em associar uma conduta moralizante à isso, desvalorizando ou culpabilizando ou demais, que não aderem às mesmas práticas como sendo os que destruirão a humanidade. Lembrem-se, a virtude é sempre silenciosa, se eu tenho a necessidade de invalidar as escolhas ou condutas dos demais, talvez seja eu que contribua para feiura do mundo, mais do que quem come carne ou anda de carro. Aliás, disto ninguém está isento.
Ademais, problematizem comigo! mas se te sente ofendido e não provocado, leia o texto da semana passada. (CLIQUE AQUI)
Caloroso cumprimento e até semana que vem!
Solange Kappes
Psicóloga CRP 12/15087
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