Coluna: Era Sol que me faltava
Devo confessar que há poucos anos eu me convenci do quanto ler é importante, de que quanto mais interesse eu tenho em ler e aprender, mais interessante eu também me torno. Certa disso, passei a procurar leituras que me capturassem pela emoção e, neste movimento catártico eu encontrei Nietzsche.
Nossa! que filósofo, que pensamentos, que aforismos, que metáforas, que livros. Faltam as palavras. Minha obra favorita, insuperada até hoje é: Assim Falava Zaratustra, e é deste livro que quero retirar um fragmento para a reflexão de hoje. E é esta:
“Um dia, Zaratustra adormeceu sob uma figueira, porque fazia calor e tapava o rosto com o braço. Nisto chegou uma víbora e mordeu-lhe o pescoço. Ele soltou um grito de dor. Afastando o braço do rosto, olhou a serpente. Quando ela reconheceu os olhos de Zaratustra, contorceu-se desajeitadamente e tentou se retirar.
“Não – disse Zaratustra – ainda não te agradeci! Despertaste-me a tempo, pois meu caminho ainda é longo”. “Teu caminho já não é longo – disse tristemente a víbora – meu veneno é mortal”. Zaratustra pôs-se a rir. “Desde quando o veneno de uma serpente matou um dragão? – disse. Reabsorve portanto teu veneno! Não és suficientemente rica para me dá-lo de presente”. (p.79)
Que te faz pensar este trecho? qual é a “moral da história”? deixarei que pensem.
Na contemporaneidade talvez tenhamos perdido ou diminuído a capacidade de nos portarmos ou reagirmos como Zaratustra/Dragões frente ao que quer nos atingir, agredir ou machucar, muitos venenos, por menos tóxicos que sejam, têm um potencial muito grande de ação sobre nós e acabamos por nos ofender e vitimizar, e por quê? quando foi e por qual razão nos abandonamos aos outros? São tantas as questões que o “pano para manga” parece interminável.
Não tenho a pretensão de apresentar as respostas e nem as possuo, isso afinal seria coaching ou auto-ajuda. Existem provocações que devem ficar em aberto, mas existem também pistas de como lidar com as víboras da nossa convivência agora, fazendo-nos dragões, através de conhecimento de si principalmente. Afinal, é como também afirma o professor Leandro Karnal, “Só se ofende quem não se conhece”.
Além disso, demonstrar-se agredido, apequenado e humilhado para as víboras da nossa convivência, entregará a elas uma força sobre nós que certamente será empregada outras vezes. Nietzsche na sequência do seu texto sugere que, aos inimigos, não devemos pagar um bem por mal, ele afinal ainda agradece a víbora demonstrando que ela lhe fez um bem, sugerindo inclusive que ela reabsorva seu veneno já que, com um dragão, ele não funciona.
Caloroso cumprimento e até semana que vem.
Solange Kappes
Psicóloga CRP 12/15087
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