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Coluna | Só um adendo | Parasitando

Parasitando

Não, esse texto não é sobre saúde ou um artigo sobre parasitologia. Apesar de ser um assunto extremamente importante (principalmente nos dias atuais), é necessário que no momento falemos sobre cinema. Mais precisamente sobre Parasita: filme sul-coreano que venceu em quatro categorias do Oscar 2020 e teve seu diretor, Bong Joon-Ho, consagrado na noite da maior premiação da indústria do cinema. 

O que torna a vitória de Parasita tão marcante na história do cinema, e quais os motivos que levaram o longa ao estrelato? Para entender melhor, é preciso olhar para atrás. A Academia possui em seu histórico uma quantidade enorme de más decisões, motivadas essencialmente pelo amplo conservadorismo que rege os votantes da premiação. Apenas onze filmes de língua estrangeira foram indicados à principal categoria da noite e nenhum havia vencido, pois geralmente essas produções ficam restritas a serem somente o melhor filme internacional. 

Mas o que se percebe, é que o “intocável” Oscar de língua inglesa, foi sofrendo mudanças drásticas nos últimos anos, sendo marcada pela “invasão mexicana” dos diretores Alejandro González Iñarritu, Guillermo Del Toro e Alfonso Cuarón na premiação, conquistando juntos 11 prêmios. Há quem diga que a premiação se tornou política. A verdade é que o cinema sempre foi e será um ato político. Desde a genial sátira de Charlie Chaplin em O Grande Ditador de 1940 em plena ascensão do nazismo, passando por Platoon, dirigido por Oliver Stone em 1986, sendo uma crítica ferrenha a Guerra do Vietnã, até a aclamação de Parasita na cerimônia deste ano.

Sim, a vitória do longa sul-coreano é um ato político. É um posicionamento contra o conservadorismo norte-americano, liderado pelo próprio presidente da nação Donald Trump. Em um país onde estrangeiros estão enfrentando cada vez mais dificuldades ao tentar alcançar o “sonho americano”, a vitória de Parasita representa a esperança de mudanças. 

O próprio filme é uma crítica ao sistema vigente. O enredo aponta as falhas que o capitalismo possui, denunciando os grandes contrastes que existem na sociedade. O diretor Bong Joon-Ho, passeia dentre os mais diversos gêneros com o intuito de abrir os olhos do público para a questão central que o longa traz: quem são os parasitas? 

Por definição, parasita significa em termos biológicos: organismo que vive de ou em um outro organismo, obtendo assim sua sobrevivência. Rapidamente somos levados a crer que a família de baixa renda são os “parasitas” do longa, pois para sobreviverem dependem totalmente da família de classe alta. Mas Bong ao longo do filme subverte essa noção. Ao olharmos o outro significado da palavra parasita, vemos que a mesma é utilizada como termo pejorativo, descrevendo indivíduos que vivem às custas alheias por pura exploração ou preguiça. Quem são os explorados do filme? Quem vive às custas de quem? 

A pergunta não é propriamente respondida, sendo deixada para a interpretação do público. Mas o diretor deixa pistas sobre o verdadeiro “vilão” do filme. Em um diálogo entre pai e filho, que após perderem tudo, estão desalojados e desamparados. O filho então pergunta para seu pai qual o segredo para se obter realizações na vida. O pai por sua vez, lhe confidencia que o segredo era não sonhar nunca, evitando assim futuras decepções.

O pai estava sendo pessimista? Ou ele simplesmente estava encarando a realidade do sistema em que vivemos? Um sistema que nos faz sonhar, que ilude com ideias de um “sonho americano” possível, sendo que na verdade poucos possuem oportunidades reais de concretizá-las. O vilão de Parasita é a desigualdade social. Onde uns trabalham para viver enquanto outros vivem para trabalhar. Cada um dependendo do outro para sobrevivência, sendo verdadeiros “parasitas” de um sistema que não os permite ser outra coisa. 

Por Briann Ziarescki Moreira

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