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10 pontos-chave para entender a cloroquina e a hidroxicloroquina

Diagnosticado com a covid-19, Jair Bolsonaro afirmou na terça-feira (7) ter começado a tratar a doença causada pelo novo coronavírus com hidroxocloroquina, um derivado da cloroquina. Desde o início da pandemia, o presidente faz propaganda do remédio. Abaixo, o Nexo traz dez perguntas e respostas sobre as substâncias e seus efeitos, baseado nas evidências científicas disponíveis.

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O que é a cloroquina, e qual sua diferença para a hidroxicloroquina?
A cloroquina é um medicamento sintético usado para o tratamento de doenças como malária, artrite e lúpus. A hidroxicloroquina, derivada da cloroquina, também é usada nesses casos, mas tem um processo diferente de fabricação e é considerada menos tóxica para o organismo.

A cloroquina e a hidroxicloroquina têm efeito sobre a covid-19?
As evidências científicas, obtidas nos estudos desenvolvidos até o momento, dizem que a cloroquina e a hidroxicloroquina são ineficazes para o tratamento da covid-19. “Temos evidências suficientes para saber que não há nenhum impacto para pacientes hospitalizados com covid-19”, disse Soumya Swaminathan, cientista-chefe da OMS (Organização Mundial da Saúde).

Por que a cloroquina e a hidroxicloroquina começaram a ser usadas no tratamento da covid-19?
Em fevereiro de 2020, um estudo do Instituto de Virologia de Wuhan, na China, indicou eficácia no controle do vírus em testes de laboratório, mas sem apontar efeito positivo em humanos. No mês seguinte, um estudo de cientistas franceses afirmou que as substâncias fizeram a carga viral de pacientes desaparecer – mas sem avaliar se houve melhora clínica. As duas pesquisas despertaram o interesse acerca da cloroquina e ela passou a ser mais estudada. Posteriormente, uma série de novos estudos constatou sua ineficácia contra a covid-19.

Por que muitas pessoas dizem ter sido curadas pela cloroquina e hidroxicloroquina?
A recuperação da maioria dos pacientes da covid-19 se dá por reações naturais do próprio corpo. Não há evidências científicas que sustentem que pacientes que tomaram a cloroquina ou a hidroxicloroquina se recuperaram como consequência direta do uso do remédio. Nesses casos, a afirmação é feita com base naquilo que é chamado de evidência anedótica, casos individuais ou isolados que não têm qualquer valor científico.

A cloroquina e hidroxicloroquina têm efeitos colaterais comprovados?
Dor de cabeça, enjoo, vômitos, diarreia, coceiras, irritações na pele, confusão mental, convulsões, queda da pressão arterial, arritmia, fraqueza muscular, perda da visão e sangramentos são alguns dos efeitos colaterais da cloroquina e da hidroxicloroquina. Seu uso, portanto, não só é ineficaz contra a covid-19 como pode trazer outros problemas para o paciente, segundo as evidências científicas disponíveis.

Por que é um problema o presidente da República fazer propaganda para a cloroquina e hidroxicloroquina?
Porque não há comprovação da eficácia das substâncias, que ainda podem causar uma série de efeitos colaterais. Além disso, a propaganda pode aumentar as buscas pelo remédio, esvaziando os estoques para quem realmente precisa dele, como ocorreu em março de 2020 em diversas cidades do país. Há também perigos na automedicação. Segundo Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde, Bolsonaro insiste no medicamento porque é uma forma de dar confiança às pessoas. Assim, o presidente poderia levar adiante seu plano de reabrir a economia.

Quem decide qual paciente pode tomar cloroquina e hidroxicloroquina no Brasil?
De acordo com o protocolo estabelecido pelo Ministério da Saúde, cabe ao médico decidir se vai receitar a cloroquina e a hidroxicloroquina para o tratamento da covid-19. Nesses casos, o paciente precisa assinar um termo expressando a autorização para receber as substâncias. Médicos que ainda receitam os medicamentos o fazem por ver neles um último recurso que pode eventualmente dar certo ou por pedido dos pacientes.

Outros países usam cloroquina e hidroxicloroquina no tratamento da covid-19?
Além do Brasil, países como Argélia, Turquia, Tailândia, Quênia e Senegal se utilizam da cloroquina e da hidroxicloroquina para o tratamento de pacientes com covid-19. Órgãos sanitários de países como Portugal, EUA e França suspenderam o uso das substâncias pelo fato de elas não apresentarem eficácia contra a covid-19.

Como o estudo contestado da Lancet sobre a cloroquina e a hidroxicloroquina turvou o debate sobre o remédio?
Em maio de 2020, a respeitada revista britânica The Lancet publicou um estudo que reafirmava a ineficácia da cloroquina para o tratamento da covid-19 e apontava seus efeitos colaterais. Dias depois, surgiram contestações acerca da base de dados usada na pesquisa, algo que expôs fragilidades do artigo. Em entrevista ao Nexo, Marcia Furquim, editora científica da Revista Brasileira de Epidemiologia, disse que os problemas surgiram da pressa em apresentar resultados. Segundo ela, as questões do estudo acentuaram a politização do debate acerca das substâncias. Mesmo com fragilidades metodológicas, o estudo chegou às mesmas conclusões de diversas outras pesquisas que não foram contestadas e que apontaram a ineficácia dos medicamentos para a covid-19.

Quantas unidades do medicamento o Brasil já produziu? E quantas recebeu de doação dos EUA?
Entre março e abril de 2020, o Exército brasileiro produziu 1,2 milhão de doses de cloroquina. A produção foi paralisada temporariamente por falta de insumos, mas foi retomada em junho. Após descartarem o uso do remédio para a covid-19, os EUA doaram 2 milhões de doses para o Brasil também em junho. Além da propaganda pessoal de Bolsonaro, a Secretaria de Gestão e Trabalho da Educação na Saúde, do Ministério da Saúde, publicou um vídeo em sua conta no YouTube no fim de junho em que orienta pacientes com sintomas leves a procurar atendimento médico. A peça mostra caixas de cloroquina e diz que os pacientes poderão ter a opção de “receber medicamentos”.

 

Fonte: NEXO

 

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