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Venda de remédios do ‘kit covid’ nas farmácias de SC é a terceira maior do Brasil

(Foto: Fotoarena / Folhapress)

A busca pelos quatro remédios mais citados no chamado “kit Covid” nas farmácias em Santa Catarina foi uma das maiores do Brasil. Em números proporcionais aos habitantes de cada estado, somente no Distrito Federal e no Rio Grande do Sul a venda de hidroxicloroquina, ivermectina, azitromicina e nitazoxanida foi maior do que em SC desde o início da pandemia do coronavírus. Não há comprovação científica sobre o benefício dos medicamentos no tratamento ou prevenção da Covid-19.

Como os quatro medicamentos tiveram a venda controlada com receita durante o ano passado, a Anvisa mantém o registro de todas as vendas feitas em farmácias privadas no país inteiro. Os dados foram compilados e divulgados pela Agência Pública, e mostram que no Brasil todo mais de 52 milhões de comprimidos dos quatro remédios foram vendidos em um ano de pandemia. Propagandeada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), a hidroxicloroquina foi a mais vendida da lista, com 32 milhões de comprimidos.

Conforme os dados de Santa Catarina, analisados pela reportagem do Diário Catarinense, cerca de 1,8 milhão de comprimidos de hidroxicloroquina foram vendidos nas farmácias durante o primeiro ano de pandemia. O pico de vendas foi no mês passado, quando o número de casos ativos e mortes atingiu as maiores taxas desde a chegada do coronavírus.

O segundo medicamento mais consumido da lista em SC foi a azitromicina, um antibiótico, que teve 630 mil comprimidos vendidos nas farmácias. O uso previsto da azitromicina em bula é para o tratamento de doenças como bronquite, pneumonia, sinusite e faringite. Os vermífugos ivermectina e nitazoxanida registraram 338 mil e 101 mil pílulas vendidas, respectivamente. No entanto, os dois medicamentos tiveram a venda controlada apenas por alguns meses durante o ano passado, o que torna a base de dados disponíveis da Anvisa menor.

Entre julho e setembro de 2020, quando a venda de ivermectina foi controlada com receita especial, Santa Catarina liderou o Brasil na venda do vermífugo. Proporcionalmente, foram 4,7 mil comprimidos por 100 mil habitantes, quase quatro vezes mais que a média nacional. Tanto a ivermectina quanto a nitazoxanida saíram da lista de controle especial em setembro do ano passado, permitindo a compra de mais remédios sem a necessidade de prescrições novas para cada paciente.

Os números representam apenas as vendas em farmácias, sem contar o volume de medicamentos distribuídos aos pacientes em unidades de saúde, por exemplo. Na soma dos quatro remédios, os registros da Anvisa contabilizam 2,8 milhões de comprimidos vendidos em Santa Catarina no último ano. Isso representa cerca de 330 mil caixas e frascos dos produtos.

Medicamento virou “arma política”

A Federação Nacional dos Farmacêuticos (Fenafar) já foi uma das diversas entidades do setor da saúde que se posicionaram de forma contrária ao uso do ‘kit covid’ para tratamento ou prevenção da doença. Presidente da entidade, Ronald Santos destaca que a as mudanças no controle da hidroxicloroquina e da ivermectina no ano passado tornaram mais fácil a compra dos remédios, mesmo com movimentos contrários das associações.

– Nós tentamos na medida do possível [alertar sobre o uso dos remédios]. Fazer nos diferentes espaços, nosmais diferentes fóruns, já era um alerta em setembro do ano passado quando entramos no STF questionando a indicação, porque já em setembro tinha evidências suficientes da ineficácia e até dos prejuízos para os pacientes – destaca o presidente da Fenafar.

Santos, que também faz parte do Conselho Estadual de Saúde (CES) de Santa Catarina, aponta que o debate sobre os possíveis medicamentos para a Covid-19 não se baseou na questão da saúde, mas sim em pautas políticas e sobre a autoridade responsável por indicar ou não tratamentos:

– É a expectativa da população de receber algum instrumento para se defender. Se alguém se aproveitar dessa expectativa para manter a sua autoridade oferecendo um instrumento sem eficácia, é muito perverso. É usar uma solução possível mais como arma política do que propriamente para intervir de forma concreta na questão de saúde.

Nos últimos meses, a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) afirmou que não recomenda o “tratamento precoce” da Covid-19 com os medicamentos como hidroxicloroquina e ivermectina. A Associação Médica Brasileira (AMB) publicou que os quatro medicamentos do kit não possuem eficácia científica comprovada e deveriam ser banidos do tratamento da Covid-19. Os protocolos da Organização Mundial da Saúde (OMS), atualizados em março de 2021, indicam que a hidroxicloroquina não é recomendada para pacientes infectados com o coronavírus, independentemente do quadro de gravidade da doença.


Fonte: NSC