O professor Kaingang Getulio Narsizo – Tójfã, da Terra Indígena Xapecó, realizou, no fim de novembro, a defesa da dissertação de Mestrado em Educação na Unochapecó. Ele é o 3º Kaingang do Oeste de Santa Catarina a obter o título de mestre em educação e é o 123º a fazer a defesa no programa da Universidade.
A pesquisa apresentada, intitulada ‘A Cosmologia na educação e vida do povo Kaingang da Terra Indígena Xapecó’, foi orientada pela professora Claudia Battestin. O projeto teve como apoio a bolsa social da Unochapecó, que possibilitou o acesso na pós-graduação. A professora comenta que a defesa de Getulio marca mais um ciclo de luta do povo Kaingang na busca da autonomia dos indígenas por uma educação específica e diferenciada.
Sobre a pesquisa realizada, Getulio explica que a dissertação apresenta a cosmologia, ou seja, a evolução na educação e vida do povo Kaingang que habita a Terra Indígena Xapecó.
“Partindo da pesquisa autoetnográfica e com interlocutores indígenas conhecedores da vida e história do nosso povo originário Kaingang, foi feito uma contextualização inicial da cosmologia na Terra Indígena Xapecó. Nessa dissertação, escrevo contando minhas vivências enquanto liderança, educador e sábio, justificando a necessidade de registrar, a partir da minha visão Kaingang, a vida e a cosmologia de meu povo”, explica.
Partindo dessa premissa, a dissertação registra a luta do povo no território hoje conhecido como Terra Indígena Xapecó, bem como, com a relação entre a educação escolar e a educação tradicional Kaingang da comunidade indígena.
“Nessa escrita, é possível perceber que a nossa cultura ainda se mantém viva, basta observar o mito de origem, o ritual do Kiki que foi e ainda é um elemento importantíssimo na luta e resistência de meu povo, na qual preserva as histórias, os usos, costumes, tradições e o uso real da língua Kaingang associada ao respeito com os velhos, sábio, lideranças e kujas”.
Também na pesquisa, segundo Getulio, é possível ver que a terra indígena para o Kaingang não é um bem material, mas uma parte da vida do povo, local onde vive sua cultura e sua alma, sendo a terra mais que terra. Sobre a organização social, política e cosmológica da terra indígena, há um respeito e valorização ao povo, pois cada membro tem uma função específica: criança, jovem, velho, sábio, kujá, mulher e lideranças indígenas vivem e convivem uma relação íntima com a natureza e a cosmologia, unindo o mundo do Kaingang a sua ancestralidade.
“No quesito educação, a partir da pesquisa, registramos a educação escolar indígena, onde a escola em terra indígena depois de um período longo de negação de direitos e imposições forçadas de aculturação e integração do indígena, tornou-se um mecanismo de resistência Kaingang”, finaliza.
Banca
A banca avaliadora teve como titulares os professores Leonel Piovezanan da Unochapecó e Clóvis Antônio Brighenti, da Unila (Universidade Federal da Integração Latino-Americana), além do professor Elcio Cecchetti, também da Unochapecó, como suplente.
Participaram da defesa, via Google Meet, cerca de 50 ouvintes, incluindo o procurador do Ministério Público Federal, Carlos Humberto Prola Junior, a professora Ana Lúcia Vulf Nötzold, da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), e a professora Maria Dorothea Post Darella, do Museu de Etnologia e Arqueologia da UFSC.
Acompanharam o momento, também, o professor Mario Mejia Huaman, da Universidad Ricardo Palma do Peru, Bruno e Joziléia Kaingang, a professora Juciane Franzen, do Departamento de Recursos Humanos da CRE de Xanxerê, entre outros acadêmicos e mestrandos de várias áreas e colegas professores Kaingang.
Fonte: ND+