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Trabalhadores têm o auxílio negado, justificativa é que estão mortos

Manicure, dono de bar e vendedora relatam via crúcis em longas filas da Caixa para conseguir respostas. Dataprev diz que usa base de dados de cartórios e que trabalhadores podem ter fornecido CPF erroneamente em caso de registro de morte de familiar.

Trabalhadores informais de São Paulo tiveram o auxílio emergencial negado pela Caixa Econômica Federal com a seguinte justificativa: “cidadão (ã) com registro de falecimento”. Mas Jaucira Alves, Valdeci da Silva e Eliane Borges não só estão vivos como passaram horas em filas da Caixa atrás de respostas – que não conseguiram.

Moradora da cidade de Ferraz de Vasconcelos, na Grande São Paulo, Jaucira Pereira trabalhava como depiladora antes da pandemia. Ela tenta conseguir o benefício desde o início de março, quando parou de atender suas clientes.

“Tentei várias vezes e na última vez apareceu que eu estava morta. Fui na Caixa para resolver e eles me mandaram procurar o Dataprev. Eu ligo todo dia para o Dataprev mas ninguém me atende. Estou conseguindo comer por causa da ajuda dos meus irmãos, mas preciso comprar remédios porque tenho glaucoma”, afirma Jaucira.

Dataprev é a instituição do governo federal responsável por verificar se o cidadão cumpre todas as exigências previstas na lei. O órgão faz parte do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

Na mesma situação está Valdeci da Silva, de 60 anos. Ele mora em Cidade Tiradentes, na Zona Leste de São Paulo, onde tem um pequeno bar. Sem renda, solicitou o auxílio, e teve como resposta que havia falecido.

Para tentar resolver a situação, Valdeci, que tem diabetes e pressão alta – grupo de risco para a Covid-19 – se arriscou durante duas horas em uma fila da Caixa. “Você pega uma fila maior do mundo e não tem uma pessoa para explicar”.

Ao ser atendido, lhe foi recomendado que fosse ao Correio. Lá, consultaram seus documentos, falaram que estavam regulares, e que deveria voltar ao banco. Ao ir à Caixa mais uma vez, também não conseguiu descobrir porque seu CPF estava registrado como falecido, e o falaram para consultar a Dataprev.

Jaucira Alves, Valdeci da Silva e Eliane Borges tiveram o auxílio emergencial negado porque teriam falecido — Foto: Arquivo pessoal

 

A vendedora Eliane Borges, de 48 anos, também teve o auxílio negado por supostamente estar morta. Ela mora sozinha em uma casa no Butantã e está há alguns anos afastada por tratar transtorno bipolar e depressão.

“Estou tão aborrecida, tão chateada. Não estou morta”, desabafou Eliane. Ela foi três vezes à Caixa e também não obteve respostas.

O equívoco não aconteceu só em São Paulo. Em Magé, na Baixada Fluminense, o desempregado Alan Torres Cruz, de 30 anos, também recebeu a mensagem que tinha falecido.

Procurada, a Caixa disse que a responsabilidade pela análise de quem tem o direito ao Auxílio Emergencial é da Dataprev e que o papel da Caixa é o pagamento do benefício.

“Se o resultado for ‘benefício não aprovado’, o cidadão poderá contestar o motivo da não aprovação ou realizar a correção de dados por meio de nova solicitação”, informou o banco.

A Dataprev, responsável por identificar quem tem direito a receber o auxílio, disse que usa bases de dados alimentadas por cartórios do país. A instituição disse que, ao registrar o óbito de algum parente, os trabalhadores podem ter fornecido o próprio CPF em vez do documento do falecido.

“Sugerimos que os requerentes se dirijam aos cartórios, onde registraram certidão de óbito na família para verificar se o CPF não foi inserido erroneamente no documento”.

Fonte: G1