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Racismo: a força negra em Santa Catarina no combate às desigualdades raciais

Registro do manifesto contra o racismo em Florianópolis nos últimos doas(Foto: Diorgenes Pandini)

O debate sobre o racismo incendeia as redes sociais, leva gente às ruas e faz reverberar na mente dos racistas as palavras do negro norte-americano George Floyd, morto por um policial em uma abordagem:

“Eu não consigo respirar”. O ar preso na garganta de Floyd, morto em 25 de maio e enterrado na última terça-feira, dia 9, reflete-se também nos dados apresentados pelo IBGE no relatório sobre desigualdades sociais por raça ou cor em Santa Catarina. Os números são de 2018.

O Estado tinha 7 milhões e 64 mil pessoas, sendo 79,9% brancas (5,6 milhões), 19,5% pretas ou pardas (1,3 milhão) e 0,5% amarela ou indígena. Entre 2012 e 2018, a população branca teve queda e 6,5% em SC, enquanto a população parda teve crescimento de 5,7% e a preta, 0,4%.

Minoria no Estado, a desigualdade fica explícita no que o IBGE chama de “taxa composta de subutilização”, que considera as pessoas desocupadas, subocupadas por insuficiência de horas ou na força de trabalho potencial.

Os pretos ou pardos somam 14,9% dessa taxa, enquanto os brancos somam 10,3%. Na renda domiciliar per capita, os brancos ganham em média R$ 1,7 mil, enquanto pretos e pardos tem rendimento médio de R$ 1,2 mil.

Flavia Lima, advogada, militante do movimento negro e consultora da Comissão de Igualdade Racial da OAB-SC, aponta que o racismo estrutural e o fato de vivermos no Estado mais branco do país ajudem a aumentar a desigualdade.

– O racismo faz com que a população negra tenha menos oportunidade. O imaginário criado da figura do negro faz com que ele seja preterido no momento da disputa dessa vaga de trabalho. Isso faz parte da lógica do racismo estrutural, que permeia a nossa sociedade. Essa desigualdade vem disso, infelizmente, e no estado mais branco do Brasil, essa população é excluída, porque SC se coloca como um estado onde a cultura europeia impera.

A educação é outro setor que apresenta disparidade e um ambiente hostil, muitas vezes, para o negro. De acordo com a pesquisa, entre os jovens, de 18 a 24 anos, quem frequentava ou já havia concluído o ensino superior em SC, a população preta ou parda representava 17,8%, menos da metade dos brancos 37,2%. Cauane Maia, doutoranda em Antropologia pela UFSC e pesquisadora do protagonismo negro em Florianópolis, cantora do grupo de mulheres Cores de Aidê e negra, relata um pouco do que vivenciou dentro do ambiente acadêmico.

– Quando ingressei na UFSC, em 2010, para cursar Ciências Econômicas, pude vivenciar um cenário acadêmico tenso, em razão da implementação das ações afirmativas em 2008. Enquanto cotista, experienciei, como outros colegas, a situação das cotas.

Esse fato emblemático, onde era eu, cotista negra, contra os estudantes brancos contra cotas, acendeu meu sinal de alerta e então não tardou para que eu me juntasse aos cotistas através do coletivo negro 4P: “Poder para o povo preto” – conta Cauane.

Fonte: NSC