Ed Motta reacende a discussão sobre o preço de álbuns raros ao pedir R$ 45 mil por edição original de LP fundamental de Moacir Santos.
ANÁLISE – Quanto vale o show? Depende da cotação do artista na indústria da música. Quanto vale o disco? Depende do apreço do colecionador pelo disco em questão.
Essa discussão voltou à pauta esta semana pelo fato de Ed Motta estar vendendo raro exemplar remanescente da edição original em LP do álbum Coisas por cerca de R$ 45 mil, se convertidos na moeda brasileira os 7 mil e 200 euros pedidos pelo artista carioca pelo LP em plataforma estrangeira de vendas.
Mais do que a obra-prima da discografia do compositor, saxofonista, arranjador e maestro pernambucano Moacir Santos (26 de julho de 1926 – 6 de julho de 2006), o cultuado álbum Coisas se tornou uma das pedras fundamentais da música brasileira desde que foi lançado em 1965 pela gravadora Forma.
Ed cotou o valor do álbum em R$ 45 mil por alegar estar vendendo exemplar raríssimo do disco, adquirido da coleção particular do produtor musical carioca Roberto Quartin (1943 – 2004), fundador da gravadora Forma, administrada em sociedade com Wadi Gebara (1937 – 2019).
Atualmente no acervo de Ed Motta, esse LP é o da edição original em estéreo, mais rara do que a simultânea edição em mono de Coisas.
Ou seja, é mimo caro (nos dois sentidos) para colecionadores de discos. Por isso, qualquer tentativa de justificar – ou de negar – o valor do LP esbarra no apreço que cada comprador em potencial pode ter pelo disco.
No Brasil, o álbum Coisas foi relançado em CD em 2004 e, no formato original de LP, em 2013. Em ambas ocasiões, com a capa original. Em bom português, trata-se de disco razoavelmente acessível em formato físico.
Só que tal acessibilidade jamais dilui o valor do exemplar original de Ed Motta. Porque, para colecionadores de discos, esse valor está justamente na primazia de possuir exemplar de edição original. O que torna infrutífera qualquer discussão sobre a legitimidade do valor do LP de Ed.
Haverá quem ache justo pagar R$ 45 mil para incluir essa pérola rara na coleção, mesmo que não tenha esse dinheiro, se for admirador ferrenho da música de Moacir Santos.
Da mesma forma, um seguidor apaixonado de Maria Bethânia pagaria um bom dinheiro pela edição do raríssimo compacto (single, no atual jargão fonográfico) gravado ao vivo em 1973 e editado em 1974 como complemento e desdobramento do álbum Drama 3º ato (1973), LP lançado pela cantora no ano anterior com o registro ao vivo do show Drama – Luz da noite (1973). Até porque, diferentemente de Coisas, esse compacto jamais foi reeditado. Nem em edição digital.
Como cotar o valor de uma paixão? Sim, disco é sinônimo de paixão para colecionadores. O que torna difícil encontrar resposta satisfatória para a pergunta.
No sombrio cenário econômico de 2020, mundialmente abalado pelos efeitos da pandemia do covid-19, cotar o valor de um disco em R$ 45 mil pode até gerar escárnio no inclemente tribunal das redes sociais.
Contudo, colecionadores de discos – e Ed Motta é um deles – sabem que nunca teve preço o prazer de ter em mãos, de preferência em bom estado de conservação, um disco pelo qual se anseia há anos ou mesmo décadas.
Quanto vale o disco? Vale, em suma, o que determinar o coração apaixonado de cada ouvinte e/ou colecionador.
Fonte: G1 Globo