Pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco, do Museu Nacional/UFRJ e da Universidade Regional do Cariri apresentaram nestaa sexta-feira (10), uma nova espécie de dinossauro que foi encontrada na unidade geológica Formação Romualdo, no Ceará, em 2008.
Com nome científico Aratasaurus museunacionali, o dinossauro que viveu há cerca de 115 milhões de anos foi batizado em homenagem ao Museu Nacional, atingido por um incêndio que destruiu parte de seu acervo em 2018.
Segundo pesquisadora Juliana Sayão, o fóssil contribui para a investigação da história evolutiva dos terópodes, grupo de dinossauros carnívoros que têm como representantes atuais as aves.
“Dentro dos Theropoda, descobrimos que o Aratasaurus faz parte de um grupo denominado Coelurosauria, que inclui tanto o dinossauro brasileiro encontrado na mesma região, chamado Santanaraptor, quanto os famosos Tyrannosaurus, velociraptores e até as aves atuais”, explica.
“O Aratasaurus aponta que parte dessa rica história pode estar no Nordeste do Brasil e na América do Sul. Sendo assim, ainda há muitas lacunas para desvendar esse quebra-cabeças evolutivo, mas com essa descoberta colocamos mais uma peça para entendê-lo”, ressalta a pesquisadora.
Segundo o Museu Nacional, “a região onde o fóssil foi encontrado era permeada por um grande lago que, ao longo do tempo, sofreu alteração da salinidade com a entrada da água do mar. A fauna era ricamente povoada por pterossauros, dinossauros espinossaurídeos, aves, crocodilomorfos e peixes”. O lago era circundado predominantemente por plantas coníferas (gimnospermas ou plantas com sementes) e algumas plantas com flores.
As condições climáticas da época e a variação de salinidade no paleolago tornaram o ambiente mais árido, diz o comunicado.
“Além disso, pequenos fragmentos escuros de material lenhoso encontrados próximos ao Aratasaurus parecem estar relacionados com a ocorrência de paleoincêndios da vegetação, indicando que haviam condições suficientemente secas para permitir a queima da vegetação que ali habitava”, comenta a paleontóloga Flaviana Lima, do Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens.
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Anatomia
Apenas uma das patas do animal está preservada, a direita traseira. “A forma como os ossos estão dispostos, articulados, levam a crer que ele provavelmente deveria estar mais completo antes de sua coleta”, acrescenta Renan Bantim, paleontólogo da Universidade Regional do Cariri.
Pelas dimensões da pata e recorrendo a espécies evolutivamente próximas, a equipe concluiu que se tratava de um animal de médio porte, chegando aos 3,12 metros e podendo ter pesado até 34,25 kg.
Entretanto, após análise da microestrutura de seus ossos, verificou-se que o fóssil era de um dinossauro juvenil, podendo crescer ainda mais até chegar à fase adulta. “Chegamos a essa conclusão analisando os anéis de crescimento que ficaram impressos nos ossos do Aratasaurus, contabilizando apenas quatro”, explica o paleontólogo Rafael Andrade.
O Aratasaurus é uma linhagem irmã do Zuolong, um celurossauro do Jurássico da China. “Isso sugere que os celurossauros mais antigos estariam mais amplamente distribuídos pelo planeta e ao longo de um tempo maior”, relata o paleontólogo chinês Xin Cheng.
A descoberta indica que outros dinossauros carnívoros também habitavam a região.
“Apesar de ser uma área muito conhecida e de importância internacional quando tratamos da ocorrência de fósseis, o achado do Aratasaurus nessa localidade nos dá a indicação de que outros tipos de dinossauros carnívoros também habitavam essa região do Brasil no período Cretáceo”, ressalta Arthur Brum, aluno de doutorado do Programa de Pós-graduação Zoologia do Museu Nacional/UFRJ.
Pesquisa
Além de sua importância científica, o Aratasaurus também atuará na divulgação das atividades paleontólogas na região do Cariri. “Essa descoberta é um marco para o Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, pois será o primeiro fóssil de dinossauro depositado nesse museu e espera, com isso, aumentar a visitação de áreas do Geopark Araripe”, diz o paleontólogo da Universidade Regional do Cariri Álamo Saraiva.
Após ser descoberto em 2008, numa mina de gesso, o fóssil do Aratasaurus foi levado para o Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, em Santana do Cariri, no interior do Ceará. Em seguida, encaminhado para o Laboratório de Paleobiologia e Microestruturas, no Centro Acadêmico de Vitória, da Universidade Federal de Pernambuco, para ser estudado.
Entre 2008 e 2016, algumas análises microscópicas de seus tecidos foram feitas em pequenas amostras dos ossos. Além disso, uma microscopia eletrônica de varredura foi realizada para reconstruir como o animal seria em vida.
“Deixar um exemplar como este, pronto para estudo, requer cuidados especiais, tais como o uso de equipamentos e produtos adequados. Devido à fragilidade e grande importância do espécime, seu preparo requereu o uso constante de microscopia e de ferramentas de precisão”, explica o preparador de fósseis do Museu Nacional/UFRJ Helder de Paula Silva.
Felizmente, a área onde o fóssil estava não foi atingida pelo incêndio de 2018, e ele permaneceu intacto. A pesquisa pôde ser finalizada e, agora, 12 anos após ser descoberto, a nova espécie está sendo formalizada, homenageando a instituição científica mais antiga do Brasil.
“A pesquisa desse novo dinossauro que, diga-se de passagem, se iniciou antes mesmo da tragédia de 2 de setembro de 2018, sintetiza a resiliência da instituição Museu Nacional.
Nós não perdemos a capacidade de gerar conhecimento, o que nós fazemos através de parcerias como aqui já temos há décadas com a Universidade Regional do Cariri” ressalta Alexander Kellner, diretor do Museu Nacional/UFRJ. “Inclusive, ficamos muito felizes na iniciativa dos demais autores em prestar esta homenagem a nossa instituição. O Museu Nacional vive”, completa Kellner, que também é colaborador do estudo.
Fonte: CNN Brasil