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Pacientes recuperados da Covid-19 precisam de reabilitação para tratar sequelas

Rede de Reabilitação Lucy Montoroe, em São Paulo, já atendeu dez pacientes que ficaram com sequelas da Covid-19 (Foto: Milton Michida – 3.set.2009/ Governo do Estado de SP)

Uma tristeza tomava conta de Antônio Pissirili, de 74 anos, quando ele olhava para as próprias pernas e elas não seguiam mais seus comandos. Curado do novo coronavírus, ele perdeu os movimentos após o vírus desencadear a Síndrome de Guillain-Barré doença neurológica autoimune que pode levar à paralisia, e é um dos dez pacientes que já foram atendidos na Rede de Reabilitação Lucy Montoro depois de terem ficado com sequelas da Covid-19.

Há cerca de dois meses, segundo a rede e a Associação Brasileira de Medicina Física e Reabilitação (ABMFR), começaram a chegar os primeiros pacientes com necessidade de fazer reabilitação depois de se recuperar do vírus.

São pessoas que passaram por longo período de internação e perderam massa magra em grande quantidade, o que limitou suas atividades, ou que apresentaram quadros de fadiga, dor crônica e doenças raras ligadas a processos infecciosos, como Guillain-Barré, que ficou mais conhecida no país durante a emergência do zika vírus.

O aposentado até tinha ficado gripado por uns dias, mas só descobriu a infecção pelo vírus a partir dos sintomas da síndrome, que apareceram em um domingo no começo de abril. “Fui passar um café e minhas pernas tremeram.”

A dificuldade para se locomover não parecia normal para um homem que trabalhou mais de 20 anos como gari e que, depois de aposentado, tinha o hábito de caminhar dois quilômetros por dia.

“Quando ele foi ao banheiro, as pernas não reagiram mais. Na AMA (Assistência Médica Ambulatorial, da Prefeitura), teve a suspeita de Covid-19. A gente voltou para casa e ele não conseguia andar de novo. O resultado do exame foi positivo (para o novo coronavírus). O pulmão já estava comprometido”, relembra a mulher, a diarista Natália Inácio Pissirili, de 58 anos.

Ele já foi encaminhado para o Hospital de Campanha do Ibirapuera onde ficou por dois dias, mas teve de ser internado no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Foram 22 dias de hospitalização. “Passei cinco dias entubado, não vi nada”, diz.

Do Hospital das Clínicas, o gari aposentado foi encaminhado para a Rede Lucy Montoro, onde iniciou um acompanhamento multidisciplinar para retomar atividades simples, como andar, comer ou trocar de roupa.

Pissirili foi um dos primeiros recuperados da Covid-19 a chegar na rede, que começou a receber esses pacientes no final de maio. A instituição, que costuma fazer a reabilitação de pessoas que sofreram traumas em acidentes e casos de acidente vascular cerebral (AVC), teve de criar áreas específicas para os novos pacientes.

Linamara Rizzo Battistella, médica fisiatra e presidente do Conselho Diretor do Instituto de Medicina Física e Reabilitação da Rede Lucy Montoro, conta que assim que os pacientes começaram a chegar a equipe percebeu que os recursos de reabilitação não seriam suficientes para atender a pandemia.

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“Com a experiência dos outros países, já estávamos vendo as condições com as quais o paciente conseguia alta. Com sequelas na parte emocional, na parte de memória e nas condições físicas. Quando a doença chegou aqui, já tínhamos a percepção de que teria reabilitação diferente de um trauma, de um AVC. Esses pacientes têm características de dor crônica, de alterações paralíticas que remetem a doenças medulares, alterações dos músculos, mas com respostas diferentes às intervenções”, explica.

De acordo com Linamara, as sequelas deixadas pelo vírus podem ser revertidas com a reabilitação em um período menor do que o de um trauma, por exemplo. A meta da instituição é, até o início de agosto, ter a possibilidade de oferecer o tratamento em todas as unidades da rede no Estado.

“Quando saí do hospital, se eu pegasse um copo d’água, derrubava metade na cama. Se me colocasse de pé, eu caía”, relembra Pissirili. “Não conseguia andar, a fala não saía, é uma coisa que não desejo para ninguém. Achei que ia morrer por causa da fraqueza. Me dava uma tristeza olhar para as minhas pernas, porque eu ia vegetar. A minha maior riqueza foi as minhas pernas voltarem a funcionar”, conta.

Embora as unidades de reabilitação ainda não tenham fechado um balanço, a demanda de pacientes tem aumentado nos últimos dois meses, segundo Eduardo de Melo Carvalho Rocha, médico fisiatra e vice-presidente da Associação Brasileira de Medicina Física e Reabilitação (ABMFR).

“São complicações de doenças associadas à Covid-19, como Guillain-Barré. Embora não seja tão clara como ocorreu na época da zika, a gente já vê um aumento nas Unidade de Terapia Intensiva (UTIs). Aqui na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, neste último mês, tivemos três pacientes com Covid que tiveram Guillain-Barré. São doenças raras, mas apareceram em pacientes pós-Covid. O que se acredita é que é um vírus novo que expôs muita gente ao mesmo tempo e aumentou o risco de doenças por exposição viral”, afirma Rocha.

 

Fonte: CNN