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O que se sabe sobre as sequelas da Covid?

(Foto: Diorgenes Pandini/NSC)

Pouco mais de um ano após o surgimento do primeiro caso de Covid-19 no Brasil, cientistas do mundo todo ainda tentam entender os efeitos da doença que mais matou em SC em 2020. Entre as grandes preocupações estão as sequelas do Novo Coronavírus naqueles que se recuperam.

De acordo com uma pesquisa publicada no periódico médico Jama Network, 30% dos participantes relataram ainda ter sintomas da Covid-19 9 meses após ter contraído a doença. Enquanto boa parte da comunidade científica busca formas de criar mais vacinas para acelerar a imunização em massa, outros profissionais tentam entender as consequências que as sequelas do Novo Coronavírus podem ter a longo prazo para pessoas que entraram em contato com ele.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) alertou para as sequelas do Novo Coronavírus ao informar que pessoas que sofrem com estes efeitos a longo prazo devem ter cuidados continuados e prolongados. Segundo a agência, uma em cada 10 pessoas que foram contaminadas pelo vírus apresentam problemas de saúde que persistem após 12 semanas.

Sequelas mais comuns

Ainda de acordo a OMS, o conjunto de sintomas físicos é ainda mais preocupante por não se entender totalmente as causas. Entre as sequelas do Novo Coronavírus mais comuns apresentadas por pessoas que contraíram a Covid-19 destacam-se casos de:

fadiga severa;

perda de olfato;

perda de paladar;

confusão mental;

redução significativa da capacidade pulmonar.

Estas consequências geram impacto direto na capacidade das pessoas diante do trabalho e também para desfrutar de boa qualidade de vida. Um estudo realizado na China em abril de 2020, e publicado no periódico European Respiratory Journal, indicou que uma das principais consequências observadas em pacientes que se recuperaram da Covid-19 foi a redução da capacidade pulmonar.

O trabalho ainda ressalta a ocorrência de manifestações semelhantes em epidemias causadas por outros tipos de coronavírus, como da Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars) e Síndrome Respiratória do Oriente Médio (Mers).

Pulmão é um dos órgãos mais acometidos

São muitos os relatos a respeito da perda de olfato e paladar, com casos que persistem até 9 meses após o desenvolvimento da doença. Além disso, outras manifestações neurológicas são responsáveis pelas sequelas do Novo Coronavírus que envolvem manifestações como dores crônicas e dores de cabeça.

Além disso, um estudo ainda em andamento aponta o possível desenvolvimento de doenças de cunho autoimune, afetando articulações e apresentando outras manifestações graves. Entretanto, o órgão que mais acometido em casos graves e não graves da Covid-19 foi o pulmão.

Sequelas permanentes tem sido observadas, como a fibrose pulmonar, doença crônica que a é caracterizada pela formação de cicatrizes por todo o tecido do pulmão. Ao preencher o espaço do tecido, o órgão não consegue apresentar a mesma elasticidade.

Dessa forma, o pulmão passa a se expandir menor, ou com maior dificuldade, perdendo sua eficiência nas trocas gasosas. Essa doença causa grande redução da capacidade respiratória e provoca falta de ar e cansaço frequente.

Uma das causas da fibrose pulmonar em pessoas que tiveram Covid-19 pode ser a inflamação intensa e generalizada que o organismo provoca ao tentar expulsar o vírus do corpo. Assim, a fibrose é uma consequência do processo de reparação natural do tecido pulmonar que foi danificado.

Sequelas do novo coronavírus que apresentam maior gravidade

As chances de sequela aumentam de acordo com o elevado número de pessoas em que a infecção pelo vírus se torna grave. De acordo com a OMS, para pessoas que precisam de atendimento intensivo em UTI (Unidade de Terapia Intensiva), com uso de aparelhos respiradores, a recuperação pode variar entre 3 a 6 semanas.

Em pesquisas preliminares com os vírus causadores da Sars e Mers, cientistas observaram que algumas pessoas podem levar até anos para uma recuperação total e, assim como as sequelas do Novo Coronavírus, os sintomas incluem condições que podem incapacitar a volta ao trabalho e atividades do dia a dia em curto prazo.

Além disso, para pessoas que precisaram de atendimento em UTI podem ser acometidas também pela síndrome pós-UTI, condição que envolve perda de força muscular pelo uso de medicamentos sedativos ou bloqueadores neuromusculares.

Síndromes respiratórias

As lesões caracterizadas pela Covid-19 não são exclusividade de síndromes respiratórias, como a fibrose pulmonar. O intervalo de internação dos pacientes que foram infectados pelo Novo Coronavírus é extenso, motivo que aumenta a probabilidade da ocorrência de sequelas respiratórias.

Por longos períodos de intubação, traqueostomia e uso de oxigenação extracorpórea (ECMO), as pessoas que apresentam quadros graves têm maiores chances de desenvolver sequelas pulmonares. Além disso, o longo período hospitalizado eleva também as chances de outras infecções graves.

Coágulos sanguíneos

Muitas pessoas que contraíram a doença registraram também a formação de coágulos sanguíneos em diferentes regiões do corpo. O surgimento desses coágulos está relacionado à resposta inflamatória exagerada que o organismo apresenta diante da doença. Entre as consequências que essas sequelas do Novo Coronavírus podem causar estão doenças como embolia pulmonar, derrames, tromboses e ataques cardíacos.

Impactos neurológicos

Em uma pesquisa feita por neurocientistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (Idor) e da Queen’s University (Canadá), constatou-se que a Covid-19 apresenta impacto no sistema nervoso, prejudicando o funcionamento do cérebro a longo prazo.

Entre os riscos apresentados, está a chance aumentada de desenvolvimento de problemas neurológicos desencadeados pela infecção do vírus em pessoas que já estejam curadas e tenham retornado a sua rotina normal.

A perda do olfato ou paladar é outra sequela de cunho neurológico que vem sendo observada em pessoas com que tiveram a doença, independente de terem sido tratadas em casa ou em hospitais. Estes sintomas podem persistir por longos períodos, e suas causas ainda são desconhecidas. Além disso, outras sequelas neurológicas documentadas entre pacientes que tiveram Covid-19 variam entre confusão mental, dificuldades cognitivas e delírio.

Lesões renais

O estudo publicado no Clinical Kidney Journal identificou que 80% das pessoas que desenvolveram quadros graves da Covid-19 desenvolveram insuficiência renal aguda. O motivo relatado é que o Novo Coronavírus ataca as células do sistema tubular dos rins, parte responsável pela reabsorção de substâncias para o organismo. As lesões hepáticas também foram reportadas de forma significativa em outros estudos relacionados às pessoas que adquiriram a doença.

Anomalias cardíacas

Em outro estudo publicado no Jama Network, observou-se que, entre 100 pessoas recuperadas da doença, 78% apresentaram após 2 meses da alta algum tipo de anomalia no coração, mesmo com boa parte dos participantes (67%) tendo apresentado a forma mais branda da doença, sem a necessidade de hospitalização.

Quais são as pessoas mais acometidas pelas sequelas do novo coronavírus

Pelo grande número de brasileiros que contraíram a doença, 13,6 milhões até o momento, hospitais já oferecem reabilitação especializada para pacientes que apresentam sequelas do Novo Coronavírus. Os especialistas atuantes nessa frente observam um paralelo entre a gravidade da infecção no organismo e as sequelas que foram deixadas.

Afinal, pacientes que apresentaram a forma de infecção mais grave, exibem um número maior de sequelas, de maneira proporcional. Contudo, isso não exclui pessoas que tiveram a forma leve da doença de apresentar efeitos no futuro.

Entre as pessoas mais acometidas por essas sequelas, ou o que se chama atualmente de Síndrome Pós-Covid, estão principalmente mulheres entre 25 a 60 anos, com vida ativa. Na maior parte dos casos, essas pessoas não estão acima do peso ou apresentam outras doenças que poderiam incluí-las em grupos de risco, como Diabetes, Hipertensão ou Obesidade. Sem soluções que possam resolver este problema, os pacientes são analisados caso a caso, de forma individual, para que seus sintomas possam ser aliviados buscando uma melhora da qualidade de vida.

O risco para o desenvolvimento de uma doença crônica

O Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH) apresentou certa preocupação com as sequelas do Novo Coronavírus que não tiveram melhora com o tempo. A questão é que, para os especialistas, estes sintomas podem se tornar uma doença crônica decorrente da Covid-19.

Entre os estudos realizados no Instituto, pacientes com as complicações mais comuns após a infecção pelo vírus não apresentaram melhora mesmo após 3 ou 4 meses. Pesquisadores ainda apontam para a fadiga crônica, física e mental, entre as pessoas que se recuperaram da Covid-19, identificando efeitos também entre aqueles que sentiram sintomas leves da doença.

Os mais afetados por esta fadiga pós-viral são mulheres entre 30 e 40 anos. Contudo, no passado já se observou a presença dessa condição em pacientes que se recuperaram da Sars, doença causada por outro tipo de coronavírus.

O fadiga crônica causa cansaço e mal-estar no organismo, assim como dificuldades para dormir, dores musculares, dores nas juntas, dores de cabeça, problemas para a concentração, palpitações e também problemas de memória.

O que mais chama a atenção diante das sequelas do Novo Coronavírus é que, diante da enorme proporção de casos no Brasil, ainda que muitos deles tenham sido com sintomas brandos, estima-se que 5% das pessoas recuperadas devem apresentar a necessidade de acompanhamento médico por tempo que ainda não se pode determinar.


Fonte: NSC