O autor do assassinato de três crianças e duas funcionárias durante o ataque a creche em Saudades foi denunciado pelo Ministério Público (MPSC) nesta sexta-feira (21) por cinco homicídios triplamente qualificados, além de 14 tentativas de homicídio. A motivação do massacre, segundo o promotor de justiça Douglas Dellazari, foi “repugnante e imoral”. As informações foram divulgadas em coletiva de imprensa, no final da tarde.
Conforme a promotoria, o jovem denunciado tinha idolatria por assassinos em série, assassinatos em massa e crimes de extremo ódio, e buscava, com o ataque, o reconhecimento e a fama “no meio em que estava inserido” na internet, onde mantinha contato com pessoas que pactuam com suas ideias.
Além disso, conforme o promotor, ficou claro durante as investigações a premeditação do crime, ao encontrar nos aparelhos que pertenciam ao acusado, “inúmeros e reiterados acessos e pesquisas pela internet por conteúdos de violência e mortes”.
– O planejamento iniciou há cerca de 10 meses, e a idealização era de um verdadeiro massacre. Ele pesquisou o retorno das aulas presenciais em SC e em específico em Saudades. Em 3 de maio, um dia antes ao ataque, pesquisou a creche municipal Aquarela. Foi um atentado antevisto e delineou o alvo mais fácil para ter êxito na sua ação – relata o promotor.
A promotoria também confirmou que, através dos acessos na internet, foi possível identificar diversas tentativas do suspeito de adquirir armas de fogo, buscando diferentes fornecedores. Sem sucesso, o acusado passou a pesquisar sobre comercialização de arco e flecha, balestras e registros de outros massacres em escolas com armas brancas.
– A titulo de exemplo, em um fórum de internet ele havia comentando sobre o homicídio de uma vítima e dizia não entender o motivo da repercussão, dado que uma única pessoa teria morrido- acrescenta Dellazari.
Questionado sobre o pedido de exame de sanidade mental solicitada pela defesa do autor do ataque, a promotoria reiterou que foi negado em primeira instância pela Justiça e argumentou que os passos dados antes da chacina demonstrariam o oposto de insanidade.
A Justiça deve analisar a denúncia e, se aceitar como está, o jovem responderá pelos homicídios e tentativas de homicídios por motivo torpe, cruel recurso que impediu ou dificultou a defesa das vítimas.
– A dosimetria da pena cabe à Justiça, mas o Ministério Público vai fazer todo o possível para alcançar o máximo de pena possível – concluiu.
A dinâmica do crime
Já revelada pela Polícia Civil, em coletiva de imprensa no dia 14 de maio, a dinâmica do do crime teve mais detalhes divulgados pelo Ministério Público nesta sexta (21).
Segundo o promotor Douglas Dellazari, o denunciado saiu do trabalho por volta das 9h15min da manhã, quando faria seu intervalo, e foi para casa, onde fez um lanche, colocou duas facas altamente lesivas – uma de uso militar e outra de uso em vegetação densa – na mochila, pegou a bicicleta e se dirigiu até a creche.
No educandário, entrou sem dificuldades e se dirigiu ao saguão, onde conseguiu fazer um reconhecimento de área. Enquanto se preparava para iniciar o ataque, foi abordado por duas professoras, as primeiras a serem esfaqueadas. Uma morre no local. A outra aguarda socorro no local, gravemente ferida, e morre no hospital.
Em seguida, o suspeito se dirige para três salas de aula, na busca por vítimas mais vulneráveis. Ele tenta acessar as classes, com chutes e empurrões, enquanto funcionárias tentam o impedir, conta o promotor. O suspeito segue para outros anexos da escola, atrás de pessoas para ferir, até chegar a mais uma sala.
– Ele bate com a faca nos vidros da janela, espalhando ainda mais pânico e (de onde estava) enxerga mais uma profissional. Então retorna ao maternal três, onde encontra quatro crianças desassistidas, porque a profissional tinha saído para chamar socorro, uma já estava morta e a outra agonizando. Com múltiplos golpes, fere as crianças.
Populares acessam a escola e um deles, consegue resgatar duas, das quatro crianças do maternal três. Uma delas, morre no hospital. A outra sobrevive. O acusado então sai da creche e se depara com um grande número de pessoas, armadas com barras de ferro e finalmente é detido.
Autor do ataque
O autor do ataque à creche tinha 18 anos e morava em Saudades com os pais e uma irmã. Segundo o delegado Jerônimo Marçal, responsável pelas investigações, ele era uma pessoa quieta e nos últimos meses se isolou da família. O jovem ficava a maior parte do tempo no quarto e não participava nem mesmo das refeições com os familiares.
Ele foi levado ao Presídio Regional de Chapecó após alta hospitalar. Ainda no hospital, foi interrogado e confessou que planejava o crime há meses. A prisão preventiva do jovem foi decretada um dia depois à chacina. Ele foi indiciado por cinco homicídios triplamente qualificados e uma tentativa de homicídio. A promotoria aumentou o número de tentativas de homicídio para 14 na denúncia.
Fonte: NSC Total