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Médico brasileiro se prepara para vacinação contra Covid-19 no Reino Unido: ‘sinal de que está chegando’

Pfizer anunciou nesta quarta (18) a conclusão dos testes de sua candidata a vacina contra a Covid-19 — Foto: Pfizer/Handout via Reuters

O cardiologista brasileiro Ricardo Petraco, de 40 anos, se prepara para a vacinação contra o coronavírus no Reino Unido. Nesta semana, ele e a equipe do Hammersmith Hospital, em Londres, receberam avisos por e-mail de que, em breve, ainda sem data definida, os profissionais receberão a vacina das farmacêuticas Pfizer e BioNtech, aprovada nesta quarta-feira (2) pelo governo britânico.

“O hospital informou a todos os médicos e profissionais de saúde que nos próximos dias ou semanas vai ser colocada em prática uma estrutura para permitir que a vacina atinja os profissionais de saúde do hospital”, afirma o médico, que também é professor do Imperial College, ao G1.

O governo britânico informou que um primeiro lote, de 10 milhões de doses, será disponibilizado pelo sistema público de saúde. À rede Sky News, o ministro de Saúde, Matt Hancock, afirmou que no início da próxima semana, começa o programa de vacinação.

No Hammersmith Hospital, as equipes foram convocadas a trabalhar em fins de semana, o que leva Ricardo a acreditar que os médicos também serão treinados para aplicarem a vacina na população. “É um sinal de que está chegando logo, a gente não tem ideia exatamente quando”, relata. Por causa das condições de armazenamento da vacina – que precisa ser mantida a -70°C – as campanhas de vacinação serão feitas em hospitais.

Natural de Porto Alegre, Ricardo mora desde 2005 em Londres e atua como cardiologista no hospital que pertence ao Imperial College, referência em estudos de saúde que mede a taxa de transmissão do coronavírus, e que está dentro da NHS, o sistema público de saúde britânico.

Cardiologista brasileiro Ricardo Petraco. — Foto: Arquivo pessoal

Estrutura ‘grande e complexa’

“Uma vacinação de crianças, em situações normais, exige alguns profissionais aptos a fazer isso. Mas para vacinar 50 milhões de pessoas, em seis meses, não vai ser só esses que vão dar conta do recado. Por isso, estão pedindo pra todo mundo que está disponível ajudar”.

Ricardo conta que o país se prepara para receber uma estrutura muito “grande e complexa” para atender a população rapidamente.

“É uma situação interessante porque todo mundo está desesperado pra sair dessa situação, mas não vou negar que existe aquela sensação de um pouco de paranoia e desconfiança por esse tipo de vacina ser diferentes das outras, que interfere no processo genético da formação de anticorpos, em comparação com vacinas que só expõem o corpo ao antígeno do vírus em si”, observa.

Existe, entre os ingleses uma preocupação, como diz o médico, pela vacina não ter sido testada ao longo prazo. “Mas acho que, na comparação de risco e benefício, particularmente para profissionais de saúde e pacientes vulneráveis, ninguém vai se colocar numa posição de evitar se vacinar, apesar de que não é obrigatório, importante que se saliente”, relata.

“Acho que efeitos colaterais virão, no futuro, mas [a vacina] é a possibilidade de salvar a população, e voltar a uma normalidade, está todo mundo de saco cheio de ficar em casa, e a economia estagnada, todo mundo quer uma vida normal de volta”, comenta.

O Reino Unido tem 59.148 mortes pela Covid-19, o maior número da Europa.

Estrutura sobrecarregada

Como médico, Ricardo não atuou na linha de frente, mas viu aumentar o número de casos de pacientes em emergência cardíaca que na verdade estavam com coronavírus. Mesmo assim, a sobrecarga no atendimento impactou as equipes disponíveis para o atendimento no hospital.

“Existe uma preocupação no começo da primeira onda por todo o nosso time. Sobrecarregou [o atendimento] no sentido de que toda a logística teve que ser modificada, profissionais realocados, equipes que foram pra emergência ou intensivo”, relata o médico, que não chegou a contrair o vírus. No hospital onde ele trabalha, ninguém tirou férias por oito meses.

O médico explica que, como Londres é uma cidade muito grande, a pressão da doença foi sentida mais cedo. “A gente pegou pico da pandemia muito cedo, em abril e maio. Agora estamos em uma segunda onda”, relata.

Fonte: G1