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Mais com menos: Como adaptar pequenas casas para o confinamento

Foto: A Little Design / Hey! Cheese

As dificuldades de se isolar e trabalhar em casa durante o confinamento são maiores por aqueles vivendo em pequenos apartamentos ou espaços pequenos. É o caso de em cidades densamente povoadas como Nova York e Londres – e é uma realidade cotidiana em lugares como Hong Kong e Tóquio, onde ter espaço é um luxo e tanto.

Nos últimos anos, as escolas de design de interiores evoluíram para ajudar as pessoas a aproveitar o máximo muito pouco. Mas, de acordo com o designer e autor norte-americano Azby Brown, que vive no Japão desde 1985 e fundou o KIT Future Design Institute em Tóquio, essas ideias foram baseadas em suposições pré-coronavírus – ou seja, um mundo no qual as pessoas podem comprar regularmente e precisam de pouco espaço de armazenamento para comida, por exemplo.

“Muito do que tornou essas ideias viáveis dependia de ter acesso à cidade”, disse ele ao telefone de sua casa em Yokohama. “Agora, a questão é como as pessoas podem viver confortavelmente em uma pequena casa quando não conseguem tirar proveito do que a cidade oferece.”

CNN falou com Azby Brown, autor de livros como “Small Spaces: Stylish Ideas for Making More of Less in the Home” (“Pequenos Espaços: Ideias elegantes para fazer mais com menos em casa“, em tradução livre) e “The Very Small Home: Japanese Ideas for Living Well in Limited Space” (“A casa muito pequena: Ideias japonesas para viver bem em espaço limitado“, idem) sobre como adaptar espaços reduzidos às novas realidades.

CNN: Você poderia recomendar algumas soluções rápidas para pessoas que moram em espaços pequenos?

Azby Brown: Preste atenção nas suas janelas. Primeira dica: simplesmente transforme-as. A novidade será mental e emocionalmente útil. Coloque alguns enfeites em volta das janelas, apenas algo para dar uma animada, para que você não sinta que está preso – e que pode fazer as mudanças que gosta.

E tire seu trabalho de perto na hora das refeições. Se possível, coloque o material em algum móvel sobre rodas, que você mover e tirar da vista por um tempo.

Qual é a melhor maneira de ter privacidade quando é preciso fazer muitas conferências por vídeo ou telefone?

Encontre uma maneira de decorar um cantinho em algum lugar da casa. Pode ser uma boa conseguir um tipo de púlpito para colocar seu laptop e um bom microfone nesse canto. Crie um pequeno canto para comunicação, e faça dessa sua janela para o mundo exterior.

Quando eu era criança nos EUA, a maioria das casas tinha um ou dois telefones, e eles ficavam instalados na parede com um lugar para se sentar – um pequeno recanto com assento e prateleira para a lista telefônica. Funcionava muito bem, porque se eu estivesse fisicamente sentado lá, você sabia que estava conversando com alguém (e não me perturbaria).

Embora agora a gente possa fazer as coisas em qualquer lugar, faz sentido definir um determinado espaço para chamadas ou o que for necessário fazer com privacidade. Talvez seja uma boa instalar uma cortina ou configurar a iluminação certa para chamadas em vídeo.

Não é preciso ter paredes para criar espaços separados, e sim o que chamamos de divisões “suaves” do espaço, como uma simples mudança na cor da parede ou um revestimento de piso diferente.

Se você estiver trabalhando em uma mesa ou uma sala compartilhada, como pode evitar distrações?

Se você realmente deseja privacidade, é psicologicamente importante combinar um sinal de “não perturbe”. Nossas casas sempre foram cheias de sinais sobre o qual é a função de cada espaço e quem o está usando – como o vidro fosco na parte de cima da porta do banheiro, que ajuda ver a luz lá dentro e saber se tem alguém lá ou não.

Em uma casa muito compacta, talvez seja preciso virar a cadeira de costas para os outros para sinalizar que você está trabalhando.

Você tem alguma dica sobre como maximizar a luz em espaços pequenos, especialmente se tiver janelas pequenas ou pouca luz solar direta?

Pessoalmente, não acho que paredes brancas sejam a melhor solução. Em geral, porém, as cores claras ajudam, e sabemos que tons neutros e naturais são psicologicamente mais tranquilos e passam a sensação de estar num espaço maior.

Curiosamente – dependendo do tamanho e da altura do espaço – um teto mais escuro pode parecer mais distante, e então deixar a sala. Pode parecer contraintuitivo, mas vemos isso em muitos lares tradicionais ao redor do mundo.

No Japão, também existe a tradição de viver no chão – usando o espaço do solo em vez de ficar sentado no alto. Isso dá uma ideia de que os ambientes são maiores e altera a maneira como a luz é reproduzida pela sala, ajudando-a a ficar maior se você tiver janelas baixas ou pequenas.

Os espelhos são outra boa maneira de criar a ilusão do espaço?

Com certeza. Espelhos são bastante eficazes para esse fim. É interessante que alguns dos melhores usos de espelhos que eu vi sejam feitos de maneiras que não refletem a sala inteira, como no alto da parede e dando a ilusão de que há outro espaço atrás da parede.

Eles precisam ser funcionais, pois você pode usá-los se precisar verificar sua aparência antes de sair. Mas não precisam ser grandes.

Há outras dicas, e a tradição japonesa de design é notável para isso. Uma delas é criar camadas de espaço usando telas de papel ou vidro, persianas ou tecidos. Mesmo que sejam colocadas em camadas superficiais, as telas podem dar ilusão de profundidade a um espaço.

Funciona especialmente bem dentro e ao redor das janelas. Às vezes, apenas ter algum tipo de camada translúcida a 10 ou 20 centímetros da janela, de papel ou tecido – ou plantas, se você tiver espaço – pode realmente dar uma sensação de profundidade.

Pessoas vivendo apartamentos pequenos precisam ser rígidas e jogar coisas fora na hora de organizar?

Precisamos nos livrar de coisas que não precisamos, mas também reconhecemos que mantemos muitas coisas porque elas estão associadas a memórias que formam nosso senso de ser e de identidade.

Conheço muitas pessoas, especialmente acadêmicos, que têm estantes de livros em todos os lugares, e tudo bem. Talvez, para um intelectual, a estante seja uma espécie de janela.

E quanto a obras de arte, pôsteres ou fotos: é melhor ter uma peça grande que chame a atenção para um ponto focal ou ter várias outras menores?

Em um espaço pequeno, o grande sempre pode ser avassalador. Mas depende da peça em si. Pessoalmente, não gosto de uma imagem grande em uma pequena sala. Prefiro ter muitas coisas pequenas que eu possa reorganizar e continuar mudando de lugar.

O que a ideia de um “santuário” significa para você? E por que é importante criar um em sua casa?

Todos nós precisamos de um lugar para recuar e nos sentirmos seguros – algum lugar confortável e que faça você se sentir protegido, onde possa descansar e se regenerar. E é isso que as casas devem ser.

Conforme os confinamentos vão se esticando, estamos vendo a união da família nos espaços que as mantêm seguras. Talvez seja um bom efeito de tudo isso. Há muito estresse e problemas (causados pelo confinamento), mas acho que muitas pessoas estão descobrindo a importância do lar como um santuário.

Qual cômodo da sua casa é o seu santuário?

Temos um pequeno deque com vista para a rua, embora nunca o tenhamos usado no passado. Recentemente, coloquei relva artificial e algumas grades de proteção em volta do guarda-corpo.

Não foi por causa da pandemia, mas por causa do desejo de passear com meu cachorro e nem sempre ser capaz de sair. Sento nesse espaço para trabalhar, e quando o tempo está bom, é maravilhoso. É um santuário, mas também é aberto e ao ar livre, e o cachorro também adora.

Fonte: CNN Brasil