Extratos bancários de Fabrício Queiroz mostram que o ex-assessor de Flávio Bolsonaro (Republicanos) depositou 21 cheques na conta de Michelle Bolsonaro, no valor total de R$ 72 mil, de 2011 a 2016.
Os documentos divergem da versão apresentada por Jair Bolsonaro (sem partido) de que Queiroz estava pagando um empréstimo. Não há nenhum sinal na conta bancária de Queiroz de que ele tenha recebido dinheiro de Jair antes disso — o que configuraria o empréstimo.
As informações, publicadas nesta sexta-feira (7) pela revista “Crusoé”, foram confirmadas pela TV Globo.
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Mais cheques são revelados
A “Crusoé” teve acesso ao extrato bancário de Fabrício Queiroz — cujo sigilo foi quebrado pela Justiça — e revelou mais depósitos em cheque do ex-assessor de Flávio Bolsonaro na conta de Michelle Bolsonaro do que se tinha conhecimento até agora.
Em dezembro de 2018, com base em um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), o Ministério Público do Rio de Janeiro afirmou que Queiroz havia depositado cheques no valor de R$ 24 mil na conta da primeira-dama.
Na época, o presidente Jair Bolsonaro justificou as transferências: disse que havia emprestado dinheiro a Queiroz, que os depósitos eram parte do pagamento dessa dívida e que o valor era ainda maior, chegando a R$ 40 mil.
“Não foi por uma, foi por duas vezes que o Queiroz teve dívida comigo e me pagou com cheques. E não veio para a minha conta esse cheque, porque simplesmente eu deixei no Rio de Janeiro. Não estaria na minha conta. E não foram R$ 24 mil. Foi R$ 40 mil”, explicou Jair.
Segundo a reportagem da “Crusoé”, “os extratos mostram que a conta da primeira-dama começou a ser abastecida por Queiroz em 2011. E pelo menos 21 cheques foram depositados entre 2011 e 2018”.
- 2011: três cheques de R$ 3 mil (R$ 9 mil);
- 2012: seis cheques de R$ 3 mil (R$ 18 mil);
- 2013: três cheques de R$ 3 mil (R$ 9 mil);
- 2016: nove cheques no total de R$ 36 mil.
Não constam depósitos em nome de Jair Bolsonaro na conta do ex-assessor. Nem mesmo os R$ 40 mil que o presidente afirmou ter emprestado a Queiroz.
Rachadinha
Flávio Bolsonaro é investigado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro por chefiar um suposto esquema de rachadinha no gabinete dele na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), quando era deputado estadual.
É uma prática em que o parlamentar fica com parte dos salários dos assessores.
As investigações apontam que Fabricio Queiroz era o operador financeiro do esquema. Seria o responsável por receber o dinheiro e fazer pagamentos para cobrir despesas de Flavio Bolsonaro.
A “Crusoé” apurou que, entre 2007 e 2018, os créditos na conta de Fabrício Queiroz totalizaram R$ 6,2 milhões.
Os salários que Queiroz recebeu da PM e da Alerj somaram R$ 1,6 milhão. Outros R$ 2 milhões vieram de 483 depósitos de servidores do gabinete de Flávio Bolsonaro. Há ainda, R$ 900 mil em créditos em dinheiro sem a identificação de quem depositou.
A análise dos extratos bancários de 2011 a 2016, no período em que Queiroz depositou os cheques a Michelle Bolsonaro, mostra que os valores que Fabrício Queiroz recebeu foram aumentando.
A reportagem levantou que, em 2011, foram R$ 400 mil — R$ 158 mil depositados em dinheiro vivo. E em 2016, chegou a R$ 696 mil, sendo R$ 223 mil em espécie.
Investigações
Fabricio Queiroz foi preso no dia 18 de junho em Atibaia, no interior de São Paulo. Vinte e dois dias depois, ele conseguiu um habeas corpus para cumprir prisão domiciliar.
Com tornozeleira eletrônica, Queiroz não pode ir além da varanda do apartamento.
Pela 10ª vez, Flávio Bolsonaro tenta barrar as investigações sobre o suposto esquema de rachadinha. Nesta quinta-feira (6), a defesa do senador pediu a troca dos promotores do Rio. Quer que as investigações sejam conduzidas por um procurador que atua na segunda instância ou pelo próprio procurador-geral de justiça do Rio, Eduardo Gussem.
Gussem já se manifestou, determinou que os promotores do grupo de combate a corrupção continuem no caso até o fim.
O que dizem os envolvidos
O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) informou que a primeira-dama não faz parte do escopo das investigações sobre a prática de rachadinha no gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj.
“O trabalho segue normalmente, sob sigilo, a cargo do Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção (GAECC/MPRJ), por designação do procurador-geral de Justiça, Eduardo Gussem”, diz a nota.
Fonte: G1