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Ervas daninhas que retomam espaços: conheça o significado da obra “Quebra Pedra” do Artista Audrian Cassanelli no elevado em Chapecó

Aproximar a diversidade de etnias a partir da biodiversidade das plantas encontradas ainda hoje no contexto urbano. Com essa finalidade, o Artista Visual, Audrian Cassanelli estampou a obra “Quebra Pedra”, aprovada no Edital de Seleções de Projetos de Arte Urbana em Chapecó. O desenvolvimento do projeto ocorreu baseado na coleta de algumas espécies de plantas no entorno do elevado que foram fotografadas individualmente.

O objetivo foi criar um catálogo de uma vegetação espontânea e resistente do próprio local. Em seguida, foi realizada a impressão de um grupo selecionado destas plantas em papel offset em tamanho ampliado. Uma das partes mais demoradas e de maior cuidado foi a do recorte. A ação posterior foi a aplicação no elevado a partir da linguagem do lambe, com o típico grude (cola de amido) para que a fotografia expandida ocupasse o espaço urbano.

A obra, que une conceito de linguagem artística e o nome popular dado a uma erva daninha quebra-pedra – os inços. Nesse contexto, o sentido o de se perpetuarem através das fendas para retomar o espaço de tudo aquilo que antes já eram parte, como se hoje procurassem rachaduras para sobreviver ao “cinza do progresso”.

“Cada pessoa, etnia, história, assim como cada planta, é única. Cada espaço, no território da cidade, é campo de alastrar-se, como peste, que nasce e resiste nos lugares mais impróprios. Da mesma forma que as plantas realizam uma busca incansável de retomar espaços através das fendas, as histórias e saberes dos nossos povos, precisam tornar-se ervas daninhas e retomar espaços. Isso ocorre por meio das rachaduras nos novos espaços concretados do desenvolvimento urbano, criando caminhos para perpetuar a própria história”, enfatiza Audrian.

Trajetória profissional e valorização dos artistas em Chapecó

Audrian, que também é integrante do Coletivo Inço e Professor de Artes na Apae Chapecó conta que a intervenção artística possui uma relação com a sua trajetória profissional. “Quebra Pedra é a síntese do fazer artístico, no momento atual, no interior. É brotar onde ninguém espera e nem quer. É estar à margem. É sobre a troca com a nossa gente, entender os nossos saberes populares. Vem da escuta da pessoa com deficiência, é sobre ser gay no interior ou melhor: bicha do mato”, expõem.

Acerca da valorização dos artistas, Audrian pontua que Chapecó é a cidade que mais valoriza os artistas. Audrian propõe a reflexão de que existem várias cidades sem Secretaria de Cultura, sem acesso a museus, galerias. O Professor relata que conheceu Museu somente no período da faculdade e entende que existem artistas vivos, produzindo e trabalhando no município.

Arte urbana é uma das artes mais vivas, não se pode mandar no que a rua diz. Com essa afirmação, Audrian questiona sobre o que as ruas de Chapecó têm a dizer, o que precisa ser gravado nas paredes para que as pessoas tomem consciência.

“Como alguém valoriza algo que não conhece? Que não tem acesso? É preciso facilitar o acesso. É preciso para, além disso, valorizar o que é produzido nesse Brasil mais profundo. Quantos artistas existem para além das nossas ruas asfaltadas? Quantos são artistas e nem sabem? O interior é vivo, é presente, produz várias formas de arte tão importantes quanto as nossas aqui da cidade. Nós apenas não estamos abertos a ela”, frisa Audrian.

Por: Lizi Vicenzi

Fonte: Barriga Verde Notícias

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