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Entenda o que são vinhos naturais, orgânicos e biodinâmicos

enólogos especializados no assunto falam mais sobre os três tipos de produção da bebida (Foto: Pixabay)

As práticas sustentáveis têm ganhado muita força no Brasil e no mundo todo. No universo dos vinhos não é diferente. A busca por um consumo cada vez mais consciente tem tornado os vinhos biodinâmicos, naturais e orgânicos populares e acessíveis aos amantes da bebida.

Mas você sabe como funciona os processos por trás desses tipos de produtos? Conversamos com Marina Santos, enóloga especialista em viticultura, e com Jefferson Sancineto Nunes, enólogo e engenheiro agrônomo, que nos explicaram um pouco sobre cada um.

Vinhos Naturais

Tem como conceito a elaboração do vinho com a mínima intervenção do homem e o mínimo uso de compostos. A principal diferença é que a bebida fermenta naturalmente, sem utilização de leveduras externas.

– Vinho natural, para mim, é o resultado de uma escolha filosófica para encontrar a expressão natural de um terroir. Ele nasce no vinhedo, a partir de uvas trabalhadas em agroecologia, sem herbicidas, pesticidas, fertilizantes e outros produtos sintéticos, ou seja, com manejo orgânico ou biodinâmico – afirma Marina.

Sobre a produção dos vinhos naturais, vale ressaltar que são proibidas qualquer intervenção técnica que possa alterar a vida bacteriana da bebida, assim como qualquer produto químico, exceto, se necessário, o sulfito em quantidades muito pequenas.

Além disso, a enóloga comenta que trabalhar com a bebida natural envolve deixar as leveduras selvagens, aquelas que estão naturalmente na casca da uva, operarem suas transformações para, assim, obter uma longa vinificação. São elas que promovem notas únicas ao vinho e nos remetem ao nosso terroir. Hoje, não existe nenhuma legislação que regulamente os vinhos naturais.

A Marina, junto com o marido, é proprietária do projeto Vinha Unna, no qual produzem vinhos naturais. Para ela, sob a ótica do produtor, é um processo limpo, sustentável e mais barato, já que todo é feito apenas através da uva.

– Você realmente tem o gosto do seu terroir, as leveduras são do seu vinhedo. No produto final, o vinho natural tem mais camadas de aromas e, na minha opinião, entrega muito mais na taça. Você tem o resultado fidedigno de uma safra, pois não altera modifica ou corrige nada – acredita a enóloga.

VINHOS ORGÂNICOS

Neste processo, a bebida é produzida exclusivamente com uvas orgânicas, sem adição de defensivos agrícolas, pesticidas ou herbicidas. Se trabalha o desenvolvimento da flora e da fauna para manter o equilíbrio do local, usando compostos não sintéticos. Jefferson conta que, diferentemente dos vinhos naturais, para os orgânicos, existe uma legislação específica e uma série de produtos autorizados:

– No processo de elaboração na vinícola, o enólogo deve respeitar as regras previstas pelo Ministério da Agricultura. A adição de sulfitos nas uvas e vinhos está autorizado dentro dos limites previstos.

Uma das principais preocupações da cultura orgânica está no solo, por isso, os produtores evitam usar qualquer substância que não seja natural para regular o terreno e a vinha. Além disso, existe um cuidado enorme para que o consumidor final não beba os pesticidas residuais através do vinho.

Vinhos Biodinâmicos

Os biodinâmicos também seguem a premissa dos vinhos orgânicos, mas incorporam questões mais amplas, como o cuidado com o calendário lunar, que garante um equilíbrio energético e biológico na produção.

O resultado na garrafa começa a partir do manejo das videiras e da produção da uva, que evita o uso de agrotóxicos e fertilizantes sintéticos e utiliza compostos naturais, se valendo de um calendário inspirado na influência das energias do sol, da lua e dos planetas.

De acordo com Jefferson, o vinho biodinâmico é elaborado com uvas produzidas em vinhedos que foram cultivados através do manejo biodinâmico e, durante esse processo, as frutas foram fermentadas usando exclusivamente os produtos e técnicas previstas pelo Ministério da Agricultura e pelos órgãos de certificação biodinâmica Deméter.

– Em relação ao manejo dos vinhedos, é proibido o uso de adubos químicos sintéticos, é obrigatório aplicar pelo menos uma vez por ano os preparados biodinâmicos de chifre-esterco e chifre sílica, é vetado também o uso de fungicidas sintéticos e é permitido o uso de preparados homeopáticos e chás de plantas para aumentar a resistência das vinhas – explica o agrônomo.

Outra característica importante dos vinhos biodinâmicos é o respeito ao calendário lunar. Cada fase da lua é importante para a elaboração de uma boa bebida. Por exemplo, em época de lua cheia, quando sua posição está mais próxima e em maior atração com a Terra, é o momento em que a seiva estará mais próxima da fruta. Por isso, aproveita-se para fazer a colheita da uva e garantir mais suco.

Por se tratar de um processo que tem a mínima intervenção, no qual as plantas crescem em um ambiente equilibrado, Jefferson afirma que o terroir se manifesta de forma mais transparente e evidente.

-Sem maquiagens, os vinhos biodinâmicos valorizam as características do local onde foi cultivado o vinhedo, as técnicas de elaboração menos intervencionistas e são produtos com uma energia vital preservada e potencializada – acredita.

 

Fonte: Gaúcha ZH