Dos 34 álbuns lançados por Elza Soares entre 1960 e 2019, um nunca foi editado no formato de CD e, por isso mesmo, tinha se tornado título especialmente raro da discografia da cantora carioca, desconhecido até por seguidores da artista.
Trata-se de Senhora da terra, álbum de 1979 que marcou a estreia de Elza na CBS, gravadora com a qual a cantora assinou contrato após fazer quatro LPs pela pequena gravadora Tapecar, editados entre 1974 e 1978.
Para celebrar os 90 anos de Elza, festejados neste mês de julho de 2020, a gravadora Sony Music relança o álbum Senhora da terra em edição digital com a capa e com as 12 faixas originais que compuseram repertório então quase inteiramente inédito.
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Aberto com o samba Põe pimenta (Beto Sem Braço e Jorginho Saberás), também apresentado em single editado em 1979 e também disponibilizado nas plataformas de áudio, o álbum Senhora da terra flagrou Elza Soares no auge da forma vocal, como mostram os bebops com que a cantora acelerou a batida de Coração vadio (Edil Pacheco e Paulinho Diniz).
Única parceria de Ivone Lara (1922 – 2018) com Mauro Duarte (1930 – 1989), o dolente O morro foi uma das joias raras de repertório em que Elza exaltou o samba em Alegria do povo (Ari do Cavaco e Luiz Luz).
Samba-enredo com que a Unidos dos Passos, escola de samba de Juiz de Fora (MG), desfilara no carnaval de 1977, Exaltação ao Rio São Francisco (Waltinho, Zezé do Pandeiro e João Leonel) foi uma das duas regravações do repertório desse disco em que Elza entrou na cadência do ijexá para recriar Afoxé (Heraldo Farias e João Belém) – samba-enredo descritivo das origens da dança baiana, com o qual a escola de samba Acadêmicos do Cubango se sagrara campeã no Carnaval da cidade de Niterói (RJ) naquele ano de 1979 – e apresentou Paródia do compositor (Wilson Moreira e Nei Lopes).
Com muitos sambas alusivos ao Carnaval, caso de Maria Pequena (Guaracy de Castro e Roberto Nepomuceno), perfil da porta-estandarte homônima da música, o álbum Senhora da terra incluiu Abertura, samba de autoria de Elza, compositora bissexta. O título aludia à abertura política “lenta, gradual e segura” que traria de volta ao Brasil, naquele ano de 1979, os exilados pelo regime militar instaurado em 1964 e endurecido em 1968.
No fim do disco, o samba Barraquinho reconectou Elza Soares com João Roberto Kelly, compositor de Barraquinho e de Boato (1961), um dos primeiros sucessos da trajetória vitoriosa da cantora. E cabe notar que, na gravação, a intérprete imita a cantora Isaura Garcia (1923 – 1993) com a bossa negra que sempre diferenciou Elza no universo das cantoras do Brasil.
Mesmo quando atravessou fases de menor visibilidade, como a vivida na CBS, Elza Soares sempre foi a tal e, até por isso, seria oportuno que, além da edição digital, a gravadora Sony Music lançasse o álbum Senhora da terra em CD para que a discografia da artista ficasse inteiramente disponível em formato físico para os colecionares dos álbuns dessa senhora cantora de incríveis 90 anos.
Fonte: G1