Quando notei que meu filho de 12 anos passava cerca de sete horas por dia fazendo seus deveres escolares online devido à pandemia da covid-19, me preocupei de imediato. Como pesquisador com foco em ‘como tornar as crianças mais ativas fisicamente’, eu sabia que meu filho e seus colegas de classe estavam sedentários por muito tempo.
Ser fisicamente ativo é bom para a saúde física e mental de todos, incluindo crianças de todas as idades e habilidades.
Crianças mais ativas fisicamente tendem a obter notas melhores e a desenvolver a autoconfiança que poderá capacitá-las a ter sucesso mais tarde em suas vidas.
No caso de pessoas com deficiências, a atividade física pode ajudá-las a obter certa independência.
Queda nas atividades físicas durante o verão
A chegada das férias de verão (no hemisfério norte) diminui um pouco as preocupações dos pais sobre os filhos estarem sedentários demais. Lembro das férias de verão como uma pausa bem-vinda ao hábito de ficar sentado o dia inteiro na escola e estar confinado a um ambiente fechado. No entanto, o inverso pode acabar sendo verdadeiro para muitas crianças atualmente.
Nos EUA, um estudo com 18.170 crianças pequenas mostrou que a parcela das que são obesas aumenta de 8,9% para 11,5% entre o jardim de infância e a segunda série. Este aumento em geral ocorre durante o verão, e não quando as crianças estão na escola.
Pesquisadores acham que a falta de atividades estruturadas no verão pode levar crianças a fazerem escolhas pouco saudáveis. Essa ideia é reforçada por uma publicação de 37 estudos revelando que crianças são menos ativas nos finais de semana do que nos dias de aulas escolares. Pesquisas também apontam que as crianças passam mais tempo em frente às telas no verão do que durante o ano letivo.
Uma hora por dia – uma meta ilusória
O Departamento de Saúde e Serviços Humanos americano recomenda que crianças e adolescentes passem pelo menos uma hora por dia correndo, andando de bicicleta ou fazendo qualquer atividade física. No entanto, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), apenas uma em cada quatro crianças entre 6 e 17 anos estava cumprindo essa recomendação antes da pandemia.
Mesmo crianças que participam de esportes organizados podem não estar atingindo os 60 minutos de atividade por dia prescritos. Um estudo descobriu que crianças em ligas de futebol-bandeira (uma variação menos violenta do futebol americano) passavam apenas 20 minutos se exercitando durante os treinos em equipe. Essa descoberta é bastante consistente em outros esportes também, como futebol e basquete, onde não mais da metade do tempo de treino era dedicada à prática de exercícios físicos.
O nível de atividade física despenca quando as crianças chegam ao ensino fundamental, não fazendo muita diferença se elas estão em equipes competitivas ou não. Um estudo em San Diego descobriu que crianças entre 11 e 14 anos gastam um total de sete minutos a menos em atividade física, do que crianças entre 7 e 10 anos, durante práticas esportivas.
Ainda assim, crianças e adolescentes gastam em torno de oito horas por dia em ocupações como assistir a TV, usar smartphones e jogar videogame.
Educação física escolar – a pílula não tomada
Quando se trata de promover a atividade física, os pesquisadores se referem à educação física como “a pílula não tomada”. Atualmente, apenas o estado de Oregon e o Distrito de Columbia têm políticas que exigem que as escolas forneçam a quantidade de tempo recomendada nacionalmente para educação física – 150 minutos semanais para séries do ensino infantil e 225 minutos para alunos do ensino fundamental e médio. Além disso, mais da metade dos estados possui brechas que permitem que os alunos do ensino médio se abstenham da educação física.
No geral, a maioria dos sistemas escolares não estava fazendo o suficiente para manter as crianças em forma antes da covid-19 dar início a meses de aprendizado remoto improvisado. O CDC deu às escolas uma nota D- por seus esforços nessa frente.
Em resumo, a grande maioria das crianças precisa gastar mais tempo sendo ativa tanto na escola quanto em casa. O tempo adicional gasto nas aulas de educação física aumenta a capacidade dos alunos de aprender as habilidades para se manterem ativos quando adultos.
O que as crianças ganham com a educação física
A educação física oferece às crianças mais do que apenas exercícios, e é por isso que atividades como banda marcial e até esportes coletivos são, na minha opinião, um substituto ruim para a disciplina.
No ensino infantil, a educação física deveria apoiar principalmente o desenvolvimento de habilidades motoras fundamentais, como pular, chutar, arremessar e receber, que são essenciais para uma grande variedade de atividades, como a maioria dos esportes coletivos, dança e ginástica. Crianças que dominarem essas habilidades quando pequenas serão mais ativas fisicamente do que aquelas que não.
Os programas de educação física dos ensinos fundamental e médio deveriam focar em manter as crianças motivadas a permanecerem ativas. Como os adolescentes são mais motivados a serem fisicamente ativos quando sentem que estão no controle de seu aprendizado, é preciso dar-lhes autonomia para escolher o que fazer. Como crianças diferentes têm interesses diferentes, o currículo de educação física deveria abranger não apenas esportes coletivos, mas também atividades que demandam menos participantes, como tênis e golfe.
Estudantes de todos os níveis de ensino deveriam ter oportunidades para desenvolver suas aptidões físicas, especialmente sua resistência aeróbica, força muscular e flexibilidade.
O que os pais podem fazer
Dezenas, talvez centenas, de recursos online dedicam-se a manter as crianças ativas e em forma enquanto não estão na escola. No entanto, descobri que poucos são apoiados por pesquisas científicas e a maioria não é desenvolvida por profissionais de educação física.
Em vez de vasculhar a internet em busca de ideias, pais de alunos do ensino infantil deveriam propor jogos que incorporam habilidades motoras fundamentais aos seus filhos. Jogar e pegar um saco de feijão, acertar um balão com algo ou até chutar uma bola já ajuda.
Incentivar os filhos a dançar e fazer alguns movimentos acrobáticos os ajudará a melhorar seu equilíbrio.
Os pais de alunos dos ensinos fundamental e médio precisam incentivar seus filhos a experimentar atividades que eles possam desfrutar e continuar praticando quando adultos, como corrida, caminhada, ciclismo e – quando houver disponibilidade – raquetebol. Tente incentivá-los participando também, se mostrando um exemplo fisicamente ativo.
Sempre que possível, os pais deveriam apoiar os interesses esportivos de seus filhos, ajudando com o transporte e com a compra de equipamentos, e planejando passeios em família para parques e eventos locais, como corridas.
Pais também devem ensinar seus filhos a acompanhar e gerenciar seu preparo físico. Rastreadores de fitness como as pulseiras Fitbits são uma ferramenta útil. As crianças podem usá-las para definir metas diárias e monitorar seu progresso.
Famílias também podem frequentemente experimentar novas atividades que tornam o condicionamento físico divertido. Por exemplo, para trabalhar com resistência aeróbica, tente pular corda ou dançar. Em vez de usar pesos para aumentar a força muscular, pratique caiaque ou escalada ou use faixas de resistência em casa. Ioga, pilates e tai chi são ótimos para desenvolver flexibilidade.
Nunca esqueça disso: a atividade física é um hábito e a forma física é uma condição (adquirida como consequência). Nenhum dos dois é sinônimo de educação física, mas um bom programa ajudará a promover ambos.
Collin A. Webster é reitor da Faculdade de Educação Associada para Pesquisa e Inovação e professor de educação física da Universidade da Carolina do Sul
Fonte: Nexo Jornal