O isolamento social estabeleceu uma nova dinâmica nos relacionamentos familiares. A convivência agora é praticamente integral. O psicólogo Bruno Cardoso aponta que a situação apresenta dois lados. “Para aqueles que conseguiram, de alguma forma, regular suas emoções e lidar com estes desafios de forma mais pacífica, foi uma oportunidade para ampliar a conexão e o vínculo com familiares, conhecer mais sobre aquelas pessoas, fazer coisas diferentes daquelas que anteriormente não eram possíveis. Por outro lado, para outros, pode ter sido um momento de intensificação das discussões, conflitos e afastamento”, explica.
Para os pais e filhos, o psicólogo observa uma alteração na rotina ainda maior: há uma demanda para reajuste tanto do tempo dos pais e mães quanto das crianças e adolescentes.
“Em um cenário diferente do isolamento social, eles iriam às suas escolas e naquele ambiente também se desenvolverem socialmente com os seus pares. Contudo, no cenário da pandemia, a modalidade online tem sido a utilizada. Neste caso, há uma interação social, mas ela ainda é limitada, principalmente, para crianças e adolescentes”, afirma Cardoso.
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Nesse sentido, os pais sentem-se sobrecarregados por terem que lidar com as suas próprias demandas pessoais, com as atividades que são repassadas pela escola – que em alguns casos têm sido mais do que era comum, e com as demandas emocionais dos filhos, que tendem a ficar mais entediados e com algum nível de desconforto por toda a situação.
“Algumas dicas podem ser manter as responsabilidades da escola e as responsabilidades da casa, contudo, de forma mais flexível, compreendendo que há alterações no humor de ambas as partes e isso precisa ser considerado. Também aproveitar o período para estreitar os laços familiares, descobrir atividades prazerosas em comum, conversar sobre dificuldades e emoções, validando e não diminuindo”, recomenda o psicólogo.
Os idosos também merecem atenção especial neste momento. Cardoso ressalta que, por fazerem parte do grupo de risco, isso pode fazer com que se sintam ameaçados na maior parte do tempo. Por outro lado, alguns também podem estar confusos e não entenderem o motivo pelo qual não podem sair e que devem solicitar a outras pessoas para fazerem tarefas externas por eles.
“A situação de ‘depender’ de uma outra pessoa pode ser difícil para aqueles que tiveram toda uma vida independente. Uma das formas de lidar é: tentar dar autonomia, dentro das possibilidades e respeitando as recomendações da saúde e ter uma postura de compreensão e validação por aquilo que eles possam estar sentindo”, indica.
Respeito as individualidades
Neste período de convivência integral, é preciso entender que cada pessoa é diferente e tem seu modo específico de processamento. Respeitar essa premissa é fundamental para manter uma relação harmônica.
“Algumas dicas são: entenda que para algumas pessoas a individualidade é um valor muito importante e que precisa ser respeitado; peça com licença e/ou autorização ao entrar no espaço do outro; esteja atento aos sinais que o outro dá na busca pelo próprio espaço; respeite opiniões divergentes – se o assunto estiver intensificando para uma possível discussão, mude o tópico”, aconselha Cardoso.
Além disso, para desenvolver um ambiente mais tranquilo, é importante se comunicar com os familiares, expressando suas emoções de forma adequada – sem ataques ao outro. “Nesse sentido, pensar em estratégias de como podem manter a conexão: assistir a um filme juntos, fazer uma receita nova, uma roda de conversa sobre as situações engraçadas que já ocorrem na história de vocês, entre outras maneiras”, indica o psicólogo.
Para aqueles que têm essa possibilidade, outra dica é investir em um momento mais individual, passando alguns dias em outro local, como alternativa de regulação emocional. “Nestes casos, há a possibilidade de manter contatos com a família em um espaço diferente de tempo – não tão intenso quanto estar no mesmo ambiente”, finaliza.
Fonte: Correio do Povo