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Filmes para ver sozinho (e não se sentir tão só)

26 de fevereiro de 2020. Há exatos 185 dias, era registrado no Brasil o primeiro caso do novo Coronavírus. Desde então, a população passou a enfrentar períodos de quarentena e isolamento social. Enfrentar a solitude sempre foi um desafio para o ser humano, afinal somos seres sociáveis, vivemos em comunidade desde a pré-história. Definitivamente a sociedade como um todo não estava preparada para a necessidade de ficarmos sozinhos.

Solidão. Pequena palavra advinda de um curto segmento orquestrado de sete letras. Ela, que entrelaça uma mistura de sentimentos tão poderosos quanto o vírus, resolveu se fazer tão notável justo no período de quarentena na maior pandemia do século. Tristeza, dor, saudade, medo, entre outras emoções combinadas em potência máxima: como lidar? 

Durante os séculos procuramos diversas formas de não nos sentirmos sozinhos, que perpassam desde tentativas místicas, religiosas e holísticas, até as seculares artes, literaturas, músicas até chegarmos ao cinema. Acompanhar os eventos de uma trama cinematográfica nos permite a imersão em um universo que permite além do permissível. A sétima arte não limita-se às convenções do momento, garantindo-nos companhia durante essa viagem sensorial que é o entretenimento. 

Nessa tentativa de aproximação com o público, o cinema traz consigo inúmeros exemplos de como temáticas, acontecimentos e emoções podem virar entretenimento. Portanto, com o intuito de possibilitar o melhor isolamento cinéfilo possível, listei cinco filmes sobre isolamento como remédio para solidão. 

Na Natureza Selvagem (2007):

Quando falamos sobre solitude no cinema, esse belíssimo longa é sempre (com muita justiça) lembrado. Escrito e dirigido por Sean Penn, o filme conta a história de como o isolamento pode ajudar na criação de perspectiva, indo muito além do isolamento. É sobre amadurecer, aprender com os próprios erros e se reconectar consigo mesmo. 

Repleto de alegorias e sob o olhar sensível do diretor, Na Natureza Selvagem se transforma em uma experiência reflexiva sobre como as vezes é preciso se afastar para olhar o quadro como um todo. Conveniente ao momento atual? 

Lunar (2009): 

O gênero da ficção científica é um prato cheio quando tratamos de isolamento, visto que por várias vezes as tramas possuem como vértice os percalços de se estar sozinho no espaço. Como exemplos temos 2001 – Uma Odisséia no Espaço (1968), Gravidade (2013) e Perdido em Marte (2015), mas como dica trago o esquecido Lunar de 2009. 

O filme estrelado por Sam Rockwell, traz como principal triunfo a cada vez mais intensa percepção de solidão. No decorrer do longa, sentimos na pele o que o protagonista passa: os cenários minimalistas Incomodam, o silêncio ensurdece e a imensidão lunar sufoca. Lunar nos mostra que nada é mais assustador do que perder-se no infinito espaço de nossa própria solidão. 

O Iluminado (1980):

Stanley Kubrick é um gênio da sétima arte. Sua tamanha contribuição para o cinema advém de sua capacidade em visitar os mais variados gêneros e conseguir reinventá-los de maneira única. Em O Iluminado, o diretor traz o horror psicológico sob uma percepção inovadora e realmente perturbadora. O enlouquecimento gradual do protagonista é sentido pelo público com a mesma intensidade que sua esposa (Shelley Duvall) sente, ao ponto de estarmos com a mesma reação que ela na icônica cena da porta.

Kubrick faz o gigantesco hotel parecer pequeno para três pessoas viverem. A loucura está em todo momento a um passo de invadir a trama, a uma curva dos enormes corredores acarpetados de aparecer. O diretor até mesmo previu como o trabalho feito de forma home office pode ser difícil, afinal “muito trabalho e pouca diversão fazem de Jack um cara bobão”. Já agradeceu por não estar de quarentena com Jack?

Náufrago (2001): 

Talvez o primeiro longa que você pensou ao relacionar cinema com isolamento, Náufrago se tornou um clássico instantâneo devido a sua trama verossímil e simples. O filme dirigido por Robert Zemeckis e estrelado pela dupla Tom Hanks e Wilson, retrata de forma magistral a diferença entre viver de forma completa e apenas sobreviver.

Durante as pouco mais de uma e quarenta minutos de duração, a ilha se torna também nosso lar. Experimentamos as dificuldades do isolamento inicial, vivemos o receio das tentativas de fuga e olhamos com estranheza um possível retorno. Com uma interpretação irretocável da dupla de protagonistas, o filme traz como conceito principal a necessidade de escape que todos sentimos ao estarmos sozinhos, como um instinto de sobrevivência intrínseco em nosso ser. 

Janela Indiscreta (1954):

Essa dica poderia indicar os perigos que o voyeurismo pode acarretar, mas não. Na verdade o longa dirigido pelo mestre Alfred Hitchcock há mais de 65 anos serve como uma luva ao período atual. Praticamente todo rodado em apenas um ambiente, a trama demonstra muito bem os desafios do isolamento social. O cenário da vizinhança ganha vida à medida que a câmera do diretor – e do protagonista – passeia pelos prédios, o que abre espaço para um mistério aparentemente sem solução.

A agonia do protagonista (James Stewart) em estar preso devido às circunstâncias perpassa ao público, que aflito assiste ao desenrolar da trama enquanto busca as peças desse quebra-cabeças genial montado por Hitchcock. Uma lição? Não espie seus vizinhos.

O período pandêmico atual têm sido desafiador nos mais variados sentidos para todos nós. Espero que essas recomendações possam fazer seu isolamento ser menos solitário e muito mais interessante. Até a próxima!  

Por Briann Ziarescki Moreira