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Coluna | Só um adendo | Bang Bang


Bang Bang

Existem momentos em nossa vida que marcam. Me recordo de uma noite onde meus pais retornaram do mercado com um DVD. Na capa o título que a princípio achei engraçado: Dança com Lobos. Eu tinha meus seis anos, mas me lembro a expectativa que me sucedeu para assistir aquele filme e entender quem dançava nessa alcateia. O encantamento foi imediato. As paisagens, o bang bang, a caçada aos búfalos, enfim tudo ali contribuiu para o nascimento dessa paixão que carrego até hoje. Eu amo faroestes.

Não sei o porquê exatamente, somente sei que é algo que me prende por completo. As ambientações que levam o público até o velho oeste, a tensão dos duelos, as cavalgadas pelo deserto, o vestuário composto de chapéu, bota com escora e pistola na cintura. Isso tudo me é fascinante. 

Mas mesmo tendo gosto por todo o gênero, existe uma dupla que realmente é a representação do faroeste no cinema para mim: Sergio Leone e Clint Eastwood. Portanto irei trazer três produções dessa dupla que são responsáveis pelo encantamento de quem vos escreve. Trata-se da famigerada trilogia dos dólares, composta de três dos melhores faroestes de todos os tempos. Vamos lá?

 

Por Um Punhado de Dólares (1964):

Na década de sessenta um diretor italiano lançava uma produção que iria introduzir um dos personagens mais icônicos da história do cinema: o pistoleiro sem nome. Sergio Leone é incomparável quando tratamos de faroeste, e foi aqui que tudo começou. A primeira parte da trilogia dos dólares apresenta o anti-herói e tudo o que ele representa. Silencioso, vestido de chapéu, poncho e dono de uma mira mortal com a pistola, ele não foi até ali pela sede da justiça. Pelo contrário, somente ansiava ganhar sua recompensa.

Mas a construção de personagem que o diretor brilhantemente orquestra, faz parecer crível ao público sua mudança de mentalidade. Claro, há muitos clichês do gênero aqui: o vilão que é mau por ser maldoso, o dono do bar que sabe tudo e sobre todos, a dona do bordel que luta pela justiça, além é claro do próprio protagonista que dispensa comentários. 

Porém é necessário entender que foi ali que surgiram e se propagaram tais elementos. Leone foi um visionário em uma época onde não se havia a coragem de inovar no gênero. Tudo aqui era novo e vívido: a trilha sonora excepcional do saudoso Ennio Morricone, os planos incrivelmente pensados especialmente para os duelos proporcionando uma tensão elevada e crescente. A partir dali, nada seria como antes nos faroestes.  

 

Por uns Dólares a Mais (1965):

No ano seguinte, Leone lança sua sequência de maneira magistral. Com Eastwood de volta ao papel que o eternizou em Hollywood e o gênio Ennio Morricone na composição, o diretor estava com a faca e o queijo na mão para fazer outro faroeste inesquecível, e ele não decepcionou.

A segunda parte da trilogia dos dólares é de tirar o fôlego. Mais apreensivo que seu antecessor, o protagonista agora possui um adversário a sua altura. A construção impecável da tensão crescente entre ambos culmina em cenas eternizadas de duelo. Afinal, quem vê a cena do chapéu jamais a esquecerá.

A escolha de se colocar à prova o talento do pistoleiro sem nome, é o maior acerto deste roteiro pois permite a diferenciação ante ao original e cria o sempre bem vindo elemento da torcida por parte do público. Dessa forma, o diretor dá o passo perfeito para seguir adiante na trilogia, tornando a produção uma ponte ideal entre o início e o final dessa história. É o amadurecer de um conceito. É genial.

 

Três Homens em Conflito (1966):

Só por um momento vamos imaginar que foi daqui que surgiu a expressão “fechar com chave de ouro”, porque sem dúvidas Leone guardou o melhor para o final. O término da trilogia dos dólares é estrondoso, tenso, complexo e inigualável. Calma, já vou explicar cada adjetivo, começando pela estrondosa tensão do longa. 

O filme é amplamente conhecido por suas cenas de duelo de tirar o fôlego, em especial o conflito final entre o trio no ápice da tensão que o cinema pode causar. Tudo isso é orquestrado de forma brilhante por Morricone, sendo a trilha sonora aqui espetacular e única. Tambores, coros, guitarras e mais uma infinidade de instrumentos foram utilizados na composição desta inconfundível trilha sonora. É o casamento perfeito. 

O roteiro consegue dar camadas aos três protagonistas durante as 2h40min, elevando a produção e proporcionando ao público entender as motivações e receios de cada um deles. Recheado de reviravoltas estupendas, o filme jamais perde o ritmo indo de vento em popa até culminar no icônico impasse mexicano final. Na próxima vez que fores escolher um filme, dê uma chance aos faroestes. Garanto que logo você estará praticando o girar da pistola com o controle remoto de sua televisão. Arriba Leone!