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Coluna | Não é só Futebol | Chorando, Se Foi

Chorando, Se Foi

O ano é 1989. No Brasil, estourava nas paradas musicais o hit “Lambada”, do grupo Kaoma. Liderada pela voz marcante de Loalwa Braz, o álbum de estreia da banda fez sucesso com a música conhecida até hoje pelos versos “Chorando se foi quem um dia só me fez chorar, Chorando estará, ao lembrar de um amor, Que um dia não soube cuidar” (leu cantando, não é?).
Chorando, se foi a invencibilidade da Chapecoense na série B do Campeonato Brasileiro. De forma dolorosa, como uma punição dos deuses do futebol, o Verdão foi superado pelo Cuiabá sofrendo dois gols nos acréscimos da segunda etapa. De forma alguma podemos dizer que o resultado não foi merecido. A Chape não entrou em campo no segundo tempo. Foi um time lento, sem ideias, postado dentro das quatro linhas com o único intuito de defender-se do rival.
Não podemos dizer também que essa atitude do time tenha sido novidade. Vencemos o Sampaio Corrêa e o Cruzeiro da mesma forma, e podemos dizer, com algumas ressalvas, que a equipe se postou de maneira semelhante frente ao Guarani, pois mesmo vencendo por 2×0, tivemos 2 pênaltis contra, jogando com um atleta a mais em campo, algo inadmissível, irresponsável. Irresponsabilidade que se repetiu frente ao time mato grossense, no lance de expulsão de Anselmo Ramon.
Louzer também não teve uma noite feliz. Suas alterações acabaram por bagunçar o time taticamente, e os jogadores sofreram com um golpe anímico após ceder o gol de empate ao Cuiabá. Um apagão de dois minutos foi o suficiente para a Chapecoense levar a virada. Como dito anteriormente, méritos totais à equipe cuiabana, que em momento nenhum desistiu de buscar o resultado, e agora lidera o certame nacional.
Porém, às atenções da noite voltaram-se a outro fato incômodo, envolvendo o alviverde catarinense. Durante o dia, foi ventilada a possibilidade de acerto do atleta Alan Ruschel, lateral esquerdo e capitão do Verdão, com o rival Avaí. Alan nunca foi unanimidade entre os torcedores da Chape, mas é fato que tem melhorado seu desempenho dentro de campo nesse ano de 2020. Mais do que isso, é apontado por muitos como referência e liderança também nos vestiários, o que estreita sua relação com o clube e sugere uma certa “identidade” com a camisa verde e branca.
Nascido em 1989 (casualmente o mesmo ano do lançamento do sucesso de Kaoma), Ruschel já não é mais um menino. Já passou por altos e baixos na carreira. Teve um momento bom na Chapecoense, transferiu-se ao Internacional, foi punido por dopping, esteve no grupo de jogadores do Verdão de 2016 e sobreviveu ao desastre aéreo.
Passou por uma longa recuperação, voltou a jogar profissionalmente, sem muito brilho, foi emprestado ao Goiás e retornou à Chape após o rebaixamento no final de 2019. Se analisarmos friamente, Alan passou 3 anos, de 2017 a 2019, sem grandes atuações no futebol brasileiro.
Seja pelo tempo de recuperação do acidente ou de condicionamento físico e técnico, a Chapecoense sempre “bancou” o jogador, mesmo não mostrando o nível de outrora. Quando sugerida sua demissão, uma enxurrada de torcedores e palpiteiros de plantão citavam a “falta de gratidão” do time. Pois bem, Alan agora tem uma chance de “ser grato” à Chape, mas provavelmente seguirá o caminho racional, o caminho financeiro.
De certa forma, é triste ver o fim da passagem de Ruschel dessa forma. Confesso que imaginava ele deixando a Chapecoense para aposentar-se, ou para seguir carreira em outra equipe (mais provável). Porém, o mais revoltante para o torcedor é ele estar saindo (provavelmente) para um rival estadual. Poderia ser diferente. Como disse, nada está concretizado ainda, mas a especulação em si já apagou muito da história que Alan levou anos para construir em Chapecó. Para muitos, deixa o status de ídolo para tornar-se mais um, ou pior, persona non grata na Arena Condá.
Como diria Kaoma, “Chorando estará ao lembrar de um amor, Que um dia não soube cuidar, Canção riso e dor, melodia de amor, Um momento que fica no ar
Enquanto aguardamos o desfecho da novela envolvendo o jogador em questão, a Chape deve baixar a poeira da derrota, trabalhar e buscar a recuperação frente ao Juventude, na próxima terça-feira, na Arena Condá. Será um setembro movimentado para o Verdão, com decisão de Estadual e jogos em sequência. Importante ao torcedor, é lembrar que o clube segue maior do que qualquer jogador que por aqui passou ou passará, e precisa de apoio após seu primeiro revés no Brasileiro. Seguimos fortes.
#VamosChape
Derlei Alex Florianovitz