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Coluna | Era Sol que me faltava | Sociedade do: “Eu não sou obrigado a nada”

Coluna Era Sol Que Me Faltava - Foto: Solange Kappes/ Barriga Verde Notícias

É passado o tempo em que nos sentíamos obrigados a fazer o que quer que fosse. A sociedade que parecia nos forçar a determinadas condutas e que, ao mesmo tempo, quase não nos oferecia direitos, hoje é história velha. Atualmente, impera o: “Eu não sou obrigado a nada”. Essa transição entre um contexto social que exigia forte disciplina e obediência para o atual, em que se exige desempenho e produtividade, fez com que a forma de adoecer os sujeitos se modificasse.

A luta antimanicomial, por exemplo, é forte no século passado. Tempo em que a sociedade “produzia” muito mais sujeitos considerados loucos, ou então, delinquentes, de tanto negar e reprimir. Agora que vivemos tempos em que tudo é permitido, tudo é possível, alcançável e conquistável, produzimos depressivos e fracassados.

Há uma nuança a ser ressaltada quando o assunto é a sociedade que produz depressivos e fracassados. Como é difundida a falácia de que todos podem tudo, desde ter sucesso, fazer dinheiro, até os discursos de que liberdade vale mais que cultivar vínculos, criamos terreno propício para o individualismo e a autocobrança. Afinal, não há chefes, patrões, empregadores ou mesmo familiares, cobrando o alto desempenho ou a produtividade constante. No final das contas, este torna-se um sofrimento auto imputado.

Em resumo, boa parte dos deprimidos da contemporaneidade são aqueles que se exploram deliberadamente, por uma pretensão de sucesso, colocando-se em posição de ser agressor e vítima de si mesmo. Há que se pensar sobre o quão difícil é dar-se conta disso e do quanto pode ser ainda mais difícil, conseguir cuidar-se e proteger-se de si mesmo.

Alguns dias atrás, pelo Instagram, questionei meus seguidores se evoluímos e hoje é melhor, ou se retrocedemos e antes era melhor. Predominou a resposta: Evoluímos, hoje é melhor. Honestamente, eu não sei! Considerando a sociedade do rendimento, da produtividade e da autocobrança, até que ponto estamos, de fato, mais livres? Em outra época, a coação vinha de fora, era imposta por terceiros. Hoje, sutilmente, ela passa a fazer parte de nós mesmos. Não somos mais ou menos livres que antes, mas hoje, nos autoexploramos e nos colocamos em guerra com nós mesmos. Infelizmente, a autodestruição vai aumentar, especialmente porque não teremos a quem culpar.

“Por falta de repouso nossa civilização caminha para uma nova barbárie. Em nenhuma outra época os ativos, isto é, os inquietos valeram tanto” (Nietzsche). Por essa falta de repouso já somos reconhecidos como: “Sociedade do Cansaço”. A preguiça nunca foi um pecado tão envergonhado. E, por mais que se combata o suicídio, matar-se de trabalhar é um orgulho. E agora, sigo questionando: Quem sobreviverá?

Solange Kappes
Psicóloga CRP 12/15087
E-mail: psicologasolangekappes@gmail.com
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