É isso mesmo! Só pessoas normais, por favor! Não me procurem os que SÃO ansiosos, depressivos, borderline, bipolares, etc. Só aceito pessoas, não atendo transtornos. É extenuante receber diagnósticos ambulantes. Em geral, eles são altamente convencidos e me procuram somente para ter a confirmação de que são casos sem solução, de que estão mesmo condenados a sofrer e de que não há terapia capaz de apoiá-los ou fazê-los mudar.
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Pessoas, em contrapartida, não querem usar a muleta da patologia para se justificar, aceitam intervenção e se colocam dispostas a encarar a vida em todas as suas nuanças, contradições e variações. Esta segunda opção é infinitamente mais exigente, perpassa pela capacidade de assumir a si mesmo todos os dias, de agir de modo a intervir diretamente sobre sua realidade e de encerrar com o uso confortável do vitimismo.
Além disso, quando o assunto são as psicopatologias, infelizmente uma série de modismos estão disponíveis para adesão de terapeutas e pacientes altamente sugestionáveis. O passado não cansa de nos oferecer exemplos disso. Vamos visitar alguns? Na idade média – mas também na atualidade – falava-se muito em possessão demoníaca, descrita pela crença de que um demônio possui um individuo e passa a controlar seus pensamentos, sentimentos e motivar suas ações. Características essas que estão presentes em dezenas de transtornos mentais descritos nos Manuais Diagnósticos e Estatísticos de Transtornos Mentais.
Por volta dos anos 1700 acreditava-se em vampirismo e em doenças mentais transmitidas por aranhas que poderiam ser curadas por intermédio de danças com rodopios frenéticos até o ponto da vertigem, assim, aconteceria um rejuvenecimento mental. Quando Goethe escreveu: Os sofrimentos do jovem Werther! Aconteceu na Europa uma epidemia de suicídios por imitação, escancarando a sugestionabilidade a qual somos facilmente submetidos.
Assim já perpassamos por outros modismos como a neurastenia, a histeria, os transtornos de conversão, os transtornos de múltipla personalidade, até os mais recentes autismo e déficit de atenção e hiperatividade. Incrivelmente, quase que por um milagre, as psicopatologias do passado sumiram, raramente se ouve algo sobre e a justificativa é de que agora os tempos são outros. Sim, os tempos são outros, mas os afetos humanos são os mesmos.
Enfim, o desejo com estas linhas é ressaltar que um apego a normalidade é indispensável para a psicoterapia, e isso perpassa pelo entendimento e aceitação das oscilações da vida. Dor é parte da vida, medo é parte, sofrer é parte, sentir ansiedade, tristeza, frustração, tudo isso é absolutamente normal. O apego a necessidade de respostas, razões e motivos para viver o que se vive é que nos deixa tão influenciáveis e suscetíveis a acreditar que somos todos doentes.
Solange Kappes
Psicóloga CRP 12/15087
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