Site icon Barriga Verde Notícias

Coluna | Era Sol que me faltava | Saúde está fora de moda! Chique é ser doente e tomar remédio

Coluna era sol que me faltava - Foto: Solange Kappes/ Barriga Verde Notícias


Saúde está fora de moda! Chique é ser doente e tomar remédio.

Datado de aproximadamente 1822, o conto de fadas da Branca de Neve e os Sete Anões é uma das mais conhecidas histórias de “Era uma vez”… Com direito a tudo que gostamos: uma madrasta vilã, um caçador, uma donzela linda, pura e inocente em perigo e o tão indispensável príncipe encantado. Além, é claro, dos sete anões, aqueles um pouco violentos, porém graciosos, de nomes: Soneca, Feliz, Atchim, Zangado, Mestre, Dengoso e Dunga. Todos eles com nomes que correspondem à sua principal característica.

A história dispensa explicações e ela também não é o foco do texto. Hoje, protagonizarão os sete anões. Durante a semana, assisti a um vídeo de comédia, no youtube, em que os comediantes sugeriram que os sete anões da atualidade possivelmente se chamariam: Hiperativo, Depressivo, Ansioso, Neurótico, Desatento, Workaholic (termo usado para designar os viciados em trabalho) e Ressentido. Ouvir isso fez tanto sentido para mim que considerei valer estas linhas.

Vamos e convenhamos, é engraçado e, ao mesmo tempo, desesperador, ao passo que vemos a humanidade caminhando para a patologização de tudo. Em dado momento, todos assumiremos a forma da caixa de alguma psicopatologia. O pior de tudo é que parece haver uma sedução nisso. Pessoas sentem deleite ao afirmarem-se ansiosas, depressivas, suicidas do trabalho ou ao sugestionarem as crianças como hiperativas. É muito fácil, né, diagnosticar-se, através de testes de internet ou pesquisas do google, e ancorar-se sobre a falsa sensação de oferecer resolutividade para uma vida insatisfatória e banal, através dos medicamentos.

Talvez, seu filho não seja hiperativo, mas, sim, ele seja tão somente mal-educado por conta da falta de limites e valores para conduzir a vida. Talvez, você não seja depressivo e só precise compreender que sentir tristeza é normal, que sofrer a morte das pessoas é natural e que nem sempre o esvaziamento de sentido é algo negativo. Talvez, você não seja ansioso, só sinta ansiedade (o que é diferente, pode acreditar) por estar horas demais ante a falsa realidade das redes sociais. Talvez, você não seja neurótico, só esteja em uma vida sem novidades, monótona e desocupada. Talvez, você não seja desatento, só seja preguiçoso mesmo, afinal, deve conseguir passar horas assistindo netflix ou no celular, sem nem perder a concentração. Não, não há orgulho nenhum em ser um Workaholic. Seu “suicício” pelo excesso talvez seja uma fuga. Agora, o que poucos querem assumir, mas quase todos são, é o fato de serem ressentidos, né? Talvez, nem sempre você seja a vítima; talvez, o mundo não queira te ofender; talvez, você não esteja com essa bola toda.

Sim, o mundo está muito chato. A última graça dessa paranóia coletiva é o fato de que, quando se trata de alguma psicopatologia, ninguém nunca a ‘porta’, ela é sempre uma característica do sujeito. A pessoa lhe diz: “eu SOU ansiosa; eu SOU depressiva”. Nunca é: “eu ESTOU com ansiedade”. Não queremos aceitar a transitoriedade das sensações e dos adoecimentos. Jamais ouvi alguém dizer: “eu SOU uma gastrite” ou “eu SOU um tumor”.

A parte isso, é evidente que existem psicopatologias e que se trata de um assunto sério. Nada dispensa a necessidade de cuidados médicos e psicológicos em condições de sofrimento e adoecimento. Inclusive, pode-se fazê-lo tão somente pelo desejo de manter-se nas rédeas da própria saúde, o que, atualmente, está muito fora de moda, porque chique é SER doente e tomar remédio.

Caloroso cumprimento e até semana que vem!

Solange Kappes
Psicóloga CRP 12/15087
E-mail: psicologasolangekappes@gmail.com
Redes sociais:www.facebook.com/solange.kappes | Intagram: @solangekappes

A opinião de nossos colunistas não reflete necessariamente a visão do veículo.