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Coluna | Era Sol que me faltava | O valor da coragem está no tamanho do teu medo!

Coluna Era Sol Que Me Faltava - Foto: Solange Kappes/ Barriga Verde Notícias

O problema não é o medo, mas a covardia. O medo, a covardia e a virtude da coragem são temas indispensáveis para reflexão, sobretudo quando o desejo é se afastar da infantilização e aproximar da maturidade. A maturidade perpassa certa capacidade de aceitar a inexorabilidade da vida, de aceitá-la como um destino, de batalhar por ela, mesmo cientes de que a perderemos no final. Assemelha-se muito a ideia de sacrifício. Enfim, essas reflexões iniciais urgiram de alguns eventos das últimas semanas.

Certa noite, uma de minhas pacientes me escreveu relatando uma atitude de grande coragem, para a qual sente que precisou se preparar ao longo de um ano inteiro de terapia. Abandonar algo que a limitava, abrir mão do conforto, do estável, do garantido, para enveredar por caminhos ainda não bem desenhados. Isto exigiu uma série de questões, primeiro, um importante desconforto com a condição atual. Depois, um tempo para viver as dúvidas e conseguir confortar-se com a ideia de que elas sempre permanecem. Por fim, a coragem de optar por um fim que necessariamente exigirá não só a capacidade de lidar com o que passará a não ser, como perder-se um pouco do que já sabe sobre si.

A coragem é tida como a virtude trágica, e não é à toa. Estar ciente de que a vida exige, de que ela não tem sentido a priori, de que não necessariamente ela conduz a evolução, de que o destino não significa nada e nem conseguirmos ter autonomia sobre ele e de que apesar de um mundo de escolhas que nos é concedido, isso não muda o fato do fim, mas nos atira em uma condição de abandonados a nós mesmos que nos cobra muito. Como disse Nelson Rodrigues: “A plenitude do humano é enfrentar a vida de peito aberto”.

O relato alegre e libertador da minha paciente reverberou em mim com muita força. De fato, existem ocasiões em que a terapia do paciente é também a nossa terapia. Conversei com a minha terapeuta sobre o tema do medo, do quanto ele já me limitou em algumas decisões e do quanto me senti forte nas ocasiões em que consegui transpô-lo. Falar sobre os anseios do coração ajuda um pouco a diminuir o medo. E então, rememorando as situações da vida que me exigiram coragem para arriscar, para modificar minha realidade, ali também encontrei os momentos em que pude me sentir mais protagonista da minha vida, mais majoritária e capaz de reconhecer quem eu sou.

Assim como as dúvidas e as incertezas, o medo também jamais deixará de ser. Sendo uma de nossas emoções básicas, é fundamental e indispensável a nossa sobrevivência. Por essa razão a afirmação inicial de que o problema não é o medo em si, mas a covardia de se deixar paralisar por ele. Afinal, as condições da vida jamais se colocarão de modo isento aos desafios. Há um preço a se pagar para fugir de uma vida banal.

Finalizo nas palavras que minha terapeuta usou para encerrar a nossa sessão: “O caminho para a liberdade perpassa necessariamente pelo território do medo”. Que a noção disso nos ajude a ter coragem.

Solange Kappes
Psicóloga CRP 12/15087
E-mail: psicologasolangekappes@gmail.com
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