O uso exacerbado da internet, a exposição do eu e os sentidos por trás disso!
É impactante a dimensão da influência do uso das redes sociais sobre o nosso emocional. Sinais e sintomas de ansiedade estão numa ascendência gritante, muito em detrimento do uso exacerbado da internet e da concessão voluntária de um tempo enorme do dia para expectar uma chuva de informações inúteis.
No universo digital, totalmente desprovido do “ônus” da presença, todos podem fazer o que quiserem de si e dos outros, sem o menor crivo de veracidade ou verificação de conteúdo. O fato de sermos hipoteticamente livres para criarmos uma personagem de nós, faz com que nos sintamos no direito de exigir do mundo, dos amigos e seguidores, uma importância muito maior do que a que de fato temos. Nas redes, é eliminada a necessidade de fazer por merecer ser apreciado e respeitado e temos a ilusão de que isso é um direito.
Esse espetáculo de egos, ou pornografia do eu, como diria o filósofo Byung-Chul Han, não acontece em razão de uma boa autoestima ou porque, de fato, aquele sujeito se ama suficientemente. Tem mais a ver com miséria afetiva e necessidade de ser adulado, acolhido e lambido pelos demais para produzir a sensação de que é apreciado. Ou seja, trata de uma revelação das nossas mazelas e feridas existenciais.
O uso exacerbado da internet aumenta ainda mais nosso ressentimento, afinal, entramos ininterruptamente em contato com pessoas que passam a impressão de serem melhores do que nós, também há aquelas que de fato são melhores que nós, e isso nos fere tanto, ficamos tão magoados quando não somos nós os amados e apreciados. Daqui, talvez, surja a necessidade de também criar personagens com virtudes que nem são as nossas, na finalidade de ser também reconhecido. Criamos ideais e passamos vergonha, porque precisar afirmar-se como “bom” ou “belo” certamente é o sinal maior do nosso fracasso.
A vida nas redes oscila entre mania e melancolia, entre espetáculo e tragédia, entre felicidade e depressão, como em um estado eterno de bipolaridade. Percebam o quanto escancaramos a nossa banalidade, o quanto falamos e postamos besteira, publicizamos alegrias mentirosas e depressões inventadas, por não entendermos e aceitarmos que a vida é o que é.
Por quais razões queremos estar tão conectados? tão informados? (Neste caso, informados é escancaradamente diferente de formados, estudiosos ou inteligentes) estamos atentos demais ao que pensam e dizem de nós, obcecados pela aparência ao mesmo tempo em que queremos “pagar” de tolerantes e livres (pf, que liberdade é essa?). Negamos ou queremos nos recusar a sentir ciúmes, inveja, posse, etc. A questão é que esse discurso não trouxe, até agora, nenhuma paz de espírito. E, em algum momento, no futuro, quem ainda precisar fazer de si um produto a ser exposto no facebook ou no instagram, postando diversas fotos de si, será só reconhecido como um medíocre solitário e carente.
Finalizo com uma frase do professor Luiz Felipe Pondé, que escreveu em sua coluna da Folha de São Paulo sobre o cenário político-pandêmico e as informações das redes sociais: “A melhor coisa a fazer é não acompanhar mais o ruído. O silêncio e o quietismo são hoje formas de higiene pessoal”.
Solange Kappes
Psicóloga CRP 12/15087
E-mail: psicologasolangekappes@gmail.com
Redes sociais:www.facebook.com/solange.kappes | Instagram: @solangekappes
A opinião de nossos colunistas não reflete necessariamente a visão do veículo.