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Coluna | Era Sol que me faltava | O que é a caixa? Onde é o dentro e o fora da caixa?

Coluna Era Sol Que Me Faltava - Foto: Solange Kappes/ Barriga Verde Notícias

É preciso pensar fora da caixa! Expressão da moda, corriqueira e que cansa de um jeito inexplicável. Desde a ocasião da coluna sobre a comunicação brega, ainda no ano passado, as palavras e expressões repetidas à exaustão me causam certa aversão, especialmente ao explorar as possíveis razões por detrás do emprego maníaco, que desembocam em modismos, pedantismos ou interesses de mercado (sim, até e, sobretudo isso).

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Há algumas semanas, assistindo a uma aula sobre tecnologias e inovação, me senti intrigada e provocada a pensar pela professora que usou a expressão “é preciso pensar fora da caixa” algumas vezes. Perguntas brotam como lâmpadas: Mas o que é pensar dentro da caixa? Como saber o que é o lado de fora da caixa? Que tipo de pensamentos precisamos ter para que seja considerado que pensamos fora da caixa? A quem interessa que pensemos fora da caixa?

O que de fato pensamos daqueles que pensam fora da caixa?
Parece-me que a ideia da expressão “Fora da caixa” coaduna a um desejo por pensamentos críticos e que se afastem dos da maioria. Se esta for uma possibilidade, será que consideramos que este é um exercício extremamente complexo, exigente e que tem custos importantes. Primeiro, tecer críticas e pensar diferente exige um extenso repertório, não é simples e não cabe em só afirmar que não concorda com algo. Segundo, é arriscado pensar diferente, diferentemente do que diz a expressão, verdadeiramente pensar “fora da caixa” pode custar a perda oportunidades, relações, empregos e etc.

Ou vocês realmente acreditam que, enquanto sociedade, sabemos lidar bem com o que é diferente? Isto exige ir contra valores instituídos e contra paradigmas. Só quem tenta fazê-lo sabe dos custos. Por fim, “pensar fora da caixa” exige dominar uma complexidade que beira o impossível. Perpassa um profundo conhecimento do modo de pensar instituído e a capacidade de transtrocar perspectivas de pensamento e de vida, que é atividade muito elevada.

Para pensar “fora” é preciso saber o que é pensar “dentro”. E isso ainda não basta. Afinal, se pensamos “dentro da caixa” é ainda preciso que estejamos conscientes disto e lúcidos de que existe um fora que tem outros contornos. Só este dar-se conta já parece ato filosófico ou insigth terapêutico.

Mas enfim, tudo isso só quer sinalizar que eu considero importante sermos cautelosos quanto as nossas habilidades e capacidades, humildes quanto ao que conhecemos e esforçados para reconhecer e transpor limites. “Ser e pensar fora da caixa” não é uma impossibilidade, mas também não é acessível a qualquer um. E considerando que até expressões como essa tem o intuito de nos escravizar ou de fazer-nos servir a um mercado que nos explora até o último fio de cabelo, já seria um enorme avanço se conseguíssemos sempre nos fazer a pergunta: A quem isto interessa?

 

Solange Kappes
Psicóloga CRP 12/15087
E-mail: psicologasolangekappes@gmail.com
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