Linhas sobre o sentir e o expressar…
Vez ou outra as linhas são um enorme desafio, escrever é um hábito em declínio, especialmente quando a questão é escrever pelo prazer de expressar algo, sem o compromisso das palavras e sem a pretensão de ser lido. Comunicar parece ser das necessidades humanas, uma das mais primordiais. Começamos chorando, depois falando, escrevendo, desenhando, cantando e até somatizando. Já afirmava o Freud, ainda no século passado, “Nenhum ser humano é capaz de esconder um segredo. Se a boca cala, falam as pontas dos dedos”.
Mas enfim, tudo isto para introduzir e justificar meus ocasionais atrasos com esta escrita. Hoje, gostaria de visitar os pensamentos de Hobbes sobre as paixões, que eu li há algum tempo e agora tornam a vir à mente. Em sua obra: Leviatã, de forma quase lírica, o filósofo assevera sua forma de compreender as moções vitais.
É tão garboso que torna-se indispensável reescrevê-lo para vocês. Assim o faço, com grifos:
“O desprezo por ajudas ou obstáculos insignificantes é magnanimidade;
A magnanimidade em perigo de morte ou ferimentos é coragem, firmeza;
O amor pelo próximo é amabilidade;
O amor às pessoas, por mera complacência é lascívia natural;
O amor particular por alguém, com desejo de reciprocidade, é paixão amorosa;
A paixão amorosa, cercada de dúvidas quanto à reciprocidade é ciúme;
A alegria pela compreensão de algo novo é admiração;
Entusiasmo repentino que provoca caretas é o riso…”
Agora, relendo e reescrevendo as palavras de Hobbes é que posso perceber o quanto faço uso das ideias ali contidas nos dias de consultório. Com frequência considerável eu repito aos meus pacientes que psicoterapia não oferece ajudinha ou conselhos, e que não devemos nem querê-los, afinal, assim estaremos nos dispondo a percorrer caminhos que não são os nossos, fazer escolhas que não resultam de reflexões próprias, perdendo assim autenticidade e capacidade de resposta de vida criativa e protagônica. É sim, recusar ajudas insignificantes trata de atitude magnânima.
Já a magnanimidade em terreno hostil à vida e a integridade trata de verdadeira coragem. É assim, como já afirmado na filosofia, as virtudes se desenvolvem em condições que lhes são hostis. É muito fácil ser corajoso ante a situações que imputem pouco medo e risco, a verdadeira coragem é ser capaz de agir nas circunstâncias de maior perigo, quando tudo nos leva a desistir.
E o amor, em torno dele existem diversas tentativas de explicação, ele é tão flexível, capaz de assumir tantas formas que eu temo descrições e definições. Quando o assunto é esta complexa paixão, prefiro concordar com o professor Clóvis de Barros Filho, ao afirmar que somos ilhas de afeto e que nosso sentir sempre termina na fronteira da nossa pele. Somando isto as limitações da linguagem, especialmente quando o assunto são os sentimentos, creio que o amor não cabe em palavras.
Tratar sobre o ciúme fica para uma próxima. Meu café já esfria.