Há relação antagônica entre inteligência e estupidez?
O desespero de nos percebermos uma raça de abandonados nos faz crer em qualquer coisa. Assim pensava um dos filósofos mais pessimistas que já encontrei, Emil Cioran. Ele afirmava, também, que até mesmo nossa lembrança é capaz de criar fantasias para escaparmos da dura realidade. Que dura realidade? Você pode assertivamente se questionar. A realidade é que não há sentido prévio para a existência.
Altamente perturbador, não concordam? Mas assim é! Historicamente o homem busca, obcecadamente, conferir sentido ao caos. Nas andanças pelo universo psicológico, é possível se deparar cruamente com o dano que a falta de sentido pode trazer à vida de um indivíduo. Usualmente, chamamos a isso de Episódio Depressivo. Falta de sentido pode levar a morte, mas crer em qualquer coisa é estupidez. Viver é conviver horas com a falta de sentido e horas com a estupidez – para ambos temos potencial inquestionável.
A necessidade humana de crer sempre foi um tanto arrogante. Precisamos nos individualizar, queremos lugar de prestígio na natureza e no cosmos. Nada mais antropocêntrico do que nos considerarmos filhos do divino e, ainda assim, protagonistas da nossa própria história. Retirar do humano a capacidade de crer na própria vida, política, filosofia ou religião nos atiraria ao vazio. Estes são questionamentos demasiado perigosos, então vamos suavizar com comédia.
Em geral, e alguns estudos apontam para isso, pessoas com uma inteligência mais apurada apresentam uma capacidade menor de crer. Mas, nossa capacidade de estupidezes jamais deve ser subestimada, mesmo que estejamos falando de grandes gênios ou de pessoas de muita inteligência. Como é o caso do ex-presidente americano Bill Clinton, que colocou toda sua carreira política em jogo a troco de um relacionamento inapropriado com sua secretária. Com Bill, aprendemos a não subestimar um belo par de pernas, isso já disse Nelson Rodrigues.
Gênios como Albert Einstein, também podem crer e dizer estupidezes, como quando ele engravidou uma moça deficiente e afirmou que isto se tratava de um castigo divino por ter se deitado com alguém tão inferior a ele. Também temos estupidezes que levam à morte, como foi o caso do genial Steve Jobs, a quem devemos a apple, que ao descobrir um câncer em estágio inicial no pâncreas, pasmem: operável, recusou-se ao tratamento convencional e quis curar-se através de chás.
Ainda associando a inteligência com a impossibilidade de fuga da estupidez, temos, curiosamente, um quarto de europeus que acreditam que a terra está no centro do universo e que tudo gira em torno dela. Isto é curioso vindo dos europeus, aqui em solo brasileiro, nem nos surpreendemos com a quantidade de estúpidos que acreditam em coisas como a terra plana.
A total falta de certezas, crenças e sentidos nos enlouquece, na mesma medida em que ter certezas em demasia, crer em qualquer coisa e querer ver sentido onde não há, nos estupidifica. Vamos abraçar nossa desordem e optar entre ser um pouco mais pirado ou um pouco mais estupido. Só não precisa exagerar, ok?
Solange Kappes
Psicóloga CRP 12/15087
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