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Coluna | Era Sol que me faltava | É preciso ter competência para ser humano, assim como para suportar gente chata!

Coluna Era Sol Que Me Faltava - Foto: Solange Kappes/ Barriga Verde Notícias

Analisando, junto de uma paciente, o seu caminho terapêutico ao longo do ano, concluímos pelo imenso recrudescimento de algumas virtudes, em função de intermináveis desafios aos quais ela foi submetida no ano corrente. Repeti a ela e repito aqui, frase que uso com recorrência: “a virtude se faz em terrenos que lhe são hostis”. Explico, é justamente quando tudo nos leva a agir mal e conseguimos, contrarregra, agir bem, é que nossa ação tem valor virtuoso.

A busca por agir bem, assertivamente, ou então, virtuosamente, é objetivo frequente de quem busca a terapia. Especialmente daqueles que reconhecem a complexidade de viver e conviver. Terry Eagleton, em uma análise do trágico, afirma que a virtude é o único caminho seguro para alcançar o bem-estar. Em suma, é fundamental ter uma vida ética. No entanto, apesar da inegável conexão das ações virtuosas com a possibilidade do bem-estar, não há garantia alguma de que agir bem resultará em felicidade. Sobretudo em um mundo tão injusto como o que vivemos.

Apesar de acreditar que é ingenuidade apegar-se à um projeto de vida feliz, não penso que seja salutar abandonar essa busca em detrimento de sacrifícios para construir virtudes. A questão do bem-estar e da felicidade coadunam e interdependem da hostilidade dos terrenos com os quais nos deparamos e que exigem viver dores cotidianas. Ou seja, não é preciso buscar o desconforto, o sacrifício, as dores. A vida, por si só, oportunizará as ocasiões em que todos serão inevitáveis de sentir. Resta, nestas ocasiões, procurar agir bem.

Saber viver é saber negociar com a vida. Como escreve Büchner: a vida boa é aquela que é vivida plenamente, ao passo que uma vida ruim é uma vida defeituosa e deficiente. E continua divertidamente: É preciso ter competência para ser humano, como para tocar trombone ou suportar gente chata, e os maus são aqueles que nunca aprendem a fazer isso. Eles são iniciantes na arte de viver, tão desajeitados e atrapalhados quanto um cão valsando nas patas traseiras. Os virtuosos, pelo contrário, são aqueles bem-sucedidos na arte de viver. Ao que parece, virtudes como a paciência e a tolerância, são indispensáveis quando o assunto é viver bem. Especialmente a considerar que não existimos sozinhos ou isolados.

Viver bem é um ato heroico. Exige que saibamos reconhecer nosso sofrimento ao invés de negá-lo ou recusá-lo. Só então, com coragem e uma boa dose de persistência, é que se pode descobrir como convertê-lo [o sofrimento] em algo inteligível e, consequentemente, conciliável as demais questões da vida. Assim nos reafirmamos e fortalecemos naquilo que é parte de nossa condição.

 

Solange Kappes
Psicóloga CRP 12/15087
E-mail: psicologasolangekappes@gmail.com
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