A forma do trato social e familiar dos velhos os tem levado à necessidade de amparo psicológico. Solidão, inutilidade, desvalorização, entre outros, são razões comuns quando o assunto é o humor deprimido crescente entre os mais velhos. Quando recebo pessoas de mais idade no consultório, há uma pergunta que sempre repito: Qual a parte mais difícil de envelhecer? De forma quase que geral, o lamento é pela degradação do corpo físico, em detrimento da mente, que parece envelhecer em um tempo diferente. Traduzido na frase: “A cabeça ainda quer, mas o corpo não acompanha”. Ou então, a tristeza de perder, um a um, as pessoas mais amadas.
A questão do envelhecimento é emergente, perpassa por discussões importantíssimas das quais, muito em breve, não conseguiremos mais fugir; como a previdência, a longevidade e as condições de saúde associadas, a solidão e o abandono dos mais velhos, a reorganização do mercado afim de manter oportunidades de trabalho, e uma infinidade de outras. Inegável é que na atualidade já domina uma sensação de que os mais velhos só incomodam.
Envelhecer tem se tornado um verdadeiro inferno na sociedade atual. As razões e explicações são muitas, algumas muito notórias, a exemplo da supervalorização do jovem, do novo, do inovador, que é resultante de uma pretensão enlouquecedora pelo progresso, pela modernização e pelo mundo da técnica. Como haveríamos de esperar que uma sociedade que preza tanto pelo novo saberia valorizar o velho? Outros pontos para reflexão, onde esses jovens supervalorizados estão indo construir seu conhecimento diante da vida? Na internet? Com amigos? Tanto valor ao novo tem produzido horror ao envelhecimento, não é à toa que existem procedimentos estéticos “preventivos”, para o pessoal que nem completou 30 anos, fugir dos traços da idade.
Não há pretensão de saudosismo nessas linhas, mas notem, há algumas décadas atrás, o valor atribuído aos mais velhos era muito superior. Aquilo que eles tinham a dizer, dotado de alguma experiência de vida, era considerado e ouvido, afinal, o tempo vivido concede uma maturidade que perpassa pelo entendimento de que a vida não se dobra a nossa vontade, de que não há como passar por ela sem sofrer ou fazer alguém sofrer, entre outras sabedorias, se assim posso dizer, que aos mais jovens e imaturos não é concedida. Os velhos tem uma capacidade de entendimento da vida que os mais jovens não têm.
Envelhecer é tão difícil especialmente porque acontece às custas de muitas “tapas” que a vida dá, e quando se consegue sair da infantilidade e da imaturidade a duras penas, surgem os verdadeiramente infantis e imaturos tratando os velhos como se eles tivessem se transformado, novamente, em crianças. E se isso não bastasse, ainda querem fazer com que os velhos ajam da forma que os jovens consideram adequadas. Só consigo pensar que no dia que eu estiver com 70 anos e alguém jovem quiser “cagar regra” para mim, sobre o que posso ou não fazer, eu vou mandar procurar o que fazer ou plantar batatas (para não exagerar no palavrão).
Envelhecer é inevitável e recomendando inclusive, pois, é como afirma o professor Luiz Felipe Pondé: “Se você chegar aos 50 anos querendo ter uma cabeça de 20, você sofre de algum retardo mental”.
Solange Kappes
Psicóloga CRP 12/15087
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