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Coluna | Era sol que me faltava | Aos ressentidos de Pla(n)tão!

Coluna era sol que me faltava - Foto: Solange Kappes/ Barriga Verde Notícias

Aos ressentidos de Pla(n)tão!

Em um mundo que transborda de vítimas do próprio narciso, entra em constante evidência o ressentimento que temos carregado enquanto sujeitos, e o tanto que este sentimento acaba sendo um motor para nossas ações. Como já abordei em outras ocasiões, com base em competentes pensadores da contemporaneidade, o narcisismo se torna marca da nossa geração em razão da disseminação de algumas falácias, como a ideia de que todos somos especiais, temos competências e habilidades únicas, somos criados para acreditar que não devemos depender de ninguém. Como se não houvesse mais a necessidade de dobrar-se à convivência e fossemos capazes de nos fazer sozinhos. Que grande besteira! sempre precisaremos da convivência, o cenário pandêmico nos reaproximou dessa noção.

Além disso, considerar que se pode tudo sozinho nos faz descompromissados com os nossos semelhantes, além de ser um desrespeito com os antepassados que criaram as condições para que nossa existência fosse como é. Que ingratidão não é mesmo? Na ingratidão começamos a ter pistas do ressentimento. Quando acreditamos que a felicidade e o bem-estar é de meu direito, perdemos a capacidade de agradecer, e caso aconteçam fracassos, dores ou sofrimentos, os percebemos como uma ofensa, dos outros e do mundo.

Ressentir-se é sempre uma forma de sofrimento, que se manifesta em nós como mágoa, mas não uma mágoa qualquer, uma mágoa insuperável, que provoca sentimento de raiva, inveja e um desejo de vingança reprimido. É então que começamos a agir de modo ofendido, sensível, como se os alheios trabalhassem para o meu fracasso, e poxa, eu sou pessoa tão boa, por que razão tudo acontece comigo? jamais fiz ou faria algo de errado, e se minha vida é ruim só pode ser em razão da inveja dos outros, ou da vontade que eles têm de me prejudicar. O sujeito coloca-se no mundo de forma tão agredida que até gera complacência dos demais.

Internamente, circula no ressentido, não só uma inveja pela felicidade do outro, mas também um desejo de que ele sofra. Há um prazer em acusar o outro dos fracassos, acompanhado dessa vontade de vingança, assim se preserva o narciso, o “Eu” não recebe as cargas do mundo ou das relações, sempre os outros são os culpados e assim nos isentamos de responsabilidades. Há um esforço para não aceitar ou perceber as próprias contribuições para eventos de fracasso. O ressentido sente-se verdadeiramente uma alma nobre injustiçada pelos semelhantes. Se vencer na vida, será por próprio mérito, mas se fracassar, a culpa é do outro.

Para não finalizar sem uma citação do filósofo que debruçou-se sobre o estudo do ressentimento, Nietzsche, segue afirmação: “Ressentimento é uma vingança imaginária e adiada”. É como se o ressentido necessitasse permanecer magoado para justificar seu modo de ser, afinal, ele é só o injustiçado, e isto que “parece” desejo de vingança, é só desejo de justiça. Enfim, se você sente e honestamente espera que o mundo e as pessoas te acolham, te acalentem e sempre te agradem, ou que seu fracasso se deve à má fé dos semelhantes. Ligue o alerta.P.S. O título é piadinha para os Nietzschianos.