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Coluna | Era Sol que me faltava | Um verão invencível

Coluna era sol que me faltava - Foto: Solange Kappes/ Barriga Verde Notícias

Um verão invencível

A inspiração para as linhas desta semana veio do lirismo de Albert Camus. Um trechinho, em especial, me encanta a longa data. No entanto, vale um passeio pelo poema inteiro e depois significamos. O escritor, romancista, filósofo e dramaturgo diz assim:

“No meio do ódio, descobri que havia, dentro de mim, um amor invencível. No meio das lágrimas, descobri que havia, dentro de mim, um sorriso invencível. No meio do caos, descobri que havia, dentro de mim, uma calma invencível. E, finalmente descobri, no meio de um inverno, que havia dentro de mim, um verão invencível. E isso faz-me feliz. Porque isso diz-me que não importa a força com que o mundo se atira contra mim, pois dentro de mim, há algo mais forte – algo melhor, empurrando de volta”.

Por ressaltar aquilo que consideramos oposição, amor e ódio, lágrima e sorriso, caos e tranquilidade, é que as lindas palavras de Camus fazem refletir sobre o imbricamento do sentir, sobre a impossibilidade de experimentar amor sem ódio, de saber o que é tranquilidade sem caos. Como tanto já sinalizei, existe em nós uma recusa por sentir e até por compreender a importância de entrar em contato com a tragicidade da vida. Sem darmo-nos conta de que a maturidade humana está totalmente conectada ao entendimento da inevitabilidade do sofrimento.

Quando nos versos finais se evidencia que o mundo e a realidade são o que são, e que assim é para todos os homens, resta que sejamos capazes de sentir ao máximo a nossa própria vida, extraindo dela toda liberdade possível, mesmo diante da contingência. Isso me faz pensar sobre se existe uma condenação da existência, e qual é a medida em que, de fato, conseguimos agir de modo a alterar a aliviar nossa experiência de vida. Talvez este nem seja o ponto central da reflexão, afinal, inevitavelmente nos chegará o tempo em que será preciso optar entre simplesmente contemplar nossa existência ou então, contemplar e agir.

Muito daquilo que vivemos é indiferente à nós, quando perdemos alguém, por exemplo, as estações do ano, a magnificência da natureza. E, além disso, temos pouca ou nenhuma ação sobre, inclusive diante de coisas que brotam do nosso âmago, como tudo que está conectado aos nossos desejos. Estar consciente disso pode nos livrar de uma boa dose de culpa, que essa onda de motivação e positividade do mundo atual derrama sobre nós, mas que isto nunca nos paralise.

Assim, atentos à realidade, especialmente à tudo aquilo que nos escapa entre os dedos, é que podemos voltar esforços para o que vem de dentro, para o amor invencível, sorriso invencível, tranquilidade invencível e verão invencível, afinal, é isso que empurra o mundo de volta. Criar e escolher é viver duas vezes.

Caloroso cumprimento e até semana que vem!

Solange Kappes
Psicóloga CRP 12/15087
E-mail: psicologasolangekappes@gmail.com
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