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Coluna: Bússola do Gestor | Ferramentas simples para guiar seu empreendimento

O Capitalismo Consciente e o legado do empresário para o Brasil

 

Muito antes do Brasil sofrer com os problemas da propagação do COVID-19, o país já lidava com sintomas de uma doença muito mais antiga que tem se alastrado em nosso território desde a colonização: A concentração de renda. 

Segundo dados do Relatório do Desenvolvimento Humano de 2019, divulgado pela ONU, o Brasil se encontra em segundo lugar em má distribuição de renda entre sua população, sendo o 1% mais rico que concentra 28,3% da renda total do país. Isso quer dizer que aproximadamente 1/3 da renda do Brasil está nas mãos dos mais ricos.

Outros dados de 2019, provenientes do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), estimam que os mais ricos (Classe A) ganham 21,4 vezes mais que os mais pobres (Classe D/E).

Em um mês (março para abril), o Brasil presenciou o crescimento (ininterrupto) de aproximadamente de 79600 (setenta e nove mil e seiscentos) casos confirmados e 5700 (cinco mil e setecentas) mortes pelo Corona Vírus. Diante disso, podemos levantar um questionamento:

Quais as classes (A ou D/E) que obtiveram a maior taxa de mortalidade? Em uma entrevista para O Globo, o Professor da USP e cirurgião, Miguel Srougi apontou que “A infraestrutura hospitalar no Brasil revela a falta de atendimento às populações mais pobres no ápice da pandemia” e que “Pobres morrerão nas portas dos hospitais”.

A realidade desses dados, junto aos decretos de paralisação do comércio e isolamento social, causou uma polarização nas opiniões (nada de novo, né?). Elas se dividiram em “Fique em Casa, se puder”, “Quarentena não é férias”; e grandes polêmicas vindas de (alguns) grandes empresários que se posicionaram contra as paralisações, usando o argumento de que o Brasil perderia apenas uma pequena porcentagem da população para a doença, e que isso estaria fadado a acontecer, logo, a pandemia e suas consequências não seriam motivos suficientes para fazer “a roda parar de girar”. 

Mas afinal, o que é o Capitalismo Consciente e como ele se encaixa neste contexto de polarização de opiniões e desigualdades econômicas históricas?

Resumidamente, é um novo olhar sobre o antigo modelo econômico capitalista (amado por uns e odiado por outros), que desacredita na empresa que tem como objetivo único maximizar seu lucro.

 Esse novo modelo é composto por 4 princípios:

  1. Uma empresa não deve ser fundada apenas no conceito de geração/maximização de lucros, mas sim visar um propósito maior, que de alguma forma impacte positivamente ao seu redor;
  2. Uma organização que entenda que o trabalho de integração com stakeholders¹ não é sobre negociar e tentar tirar vantagem, mas sim sobre uma relação ganha-ganha;
  3. Um negócio que seja liderado de forma consciente. Não é possível ter um Negócio Consciente, se não há líderes conscientes. Este(a) líder é quem vai ajudar a empresa a seguir o caminho de seu propósito e valores;
  4. Essa maneira consciente de gerir a empresa só é possível ser implementado de forma eficaz através de uma cultura e gestão consciente, ou seja, este novo modelo econômico tem que estar no DNA da Empresa. 

A situação que o Brasil se encontra devido às crescentes consequências da pandemia, também potencializadas pela má administração de líderes não conscientes, só enfatiza que os princípios dessa nova ótica capitalista são extremamente necessários. 

Precisamos de lideranças conscientes e estratégicas que se posicionem e tomem ações, não apenas por ser um momento extremamente delicado para economia, mas também pelo motivo de que um líder consciente sabe que tem um papel de líder-cidadão para assumir em conjunto com o Estado, para trabalhar em prol da população vulnerável e em combate às consequências desastrosas do vírus para humanidade.

Empresas como Renner pararam suas lojas antes dos decretos; a cervejaria AmBev iniciou a produção de 500 mil unidades de álcool em gel para doação para hospitais públicos; a Magazine Luiza fez doações de milhões destinados à compras de equipamentos hospitalares; e cresce cada vez mais o número de empresas que participam de ações em prol do combata ao vírus.

Por fim, uma empresa que pratica os princípios do Capitalismo Consciente tem clareza que fazer o certo não é uma questão de escolha, ou de opinião, é uma resposta à qual legado a empresa vai deixar.

 

Stakeholder: membro, parte, organismo de uma Organização que caso não faça mais parte das relações de uma empresa, esta não sobreviveria (Exemplo de Stakeholders: Consumidor, meio ambiente, fornecedores e etc.)
Gráfico que faz referência, no segundo quadrante, à interação entre impacto positivo x retorno financeiro como funcionamento de uma empresa que aplica o Capitalismo Consciente.

Referências: Capitalismo Consciente – Como Liberar o Espírito Heroico Dos Negócios”, John Mackey e Raj Sisodia.

 

José Eduardo Carneiro Domingos dos Santos
Acadêmico de Administração
Co-fundador da Educere – Cursos e Treinamentos