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Casa natal de Che: vende-se

O apartamento em Rosário, onde o guerrilheiro nasceu em circunstâncias confusas, é oferecido após falhar a tentativa de criar um memorial (Foto: MARCELO MANERA / AFP)

A casa natal de Ernesto Che Guevara está à venda. Trata-se de um apartamento de mais de 200 metros quadrados em um dos edifícios mais elegantes de Rosário. Os proprietários pedem  400.000 dólares (cerca de 2,15 bilhões de reais). Queriam transformar a residência em um espaço cultural, mas os vizinhos bloquearam o projeto. Ninguém sabe o que vai acontecer agora. O edifício de estilo francês localizado na esquina das ruas Urquiza e Entre Ríos foi construído em 1927 por Alejandro Bustillo, o mais célebre arquiteto argentino.

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Era praticamente novo em 1928, quando Celia de la Serna deu à luz seu primeiro filho nesse apartamento no segundo andar. As circunstâncias são confusas. Por que Celia de la Serna e Ernesto Guevara Lynch, residentes de uma fazenda agrícola em Caraguatay (Misiones) e em Buenos Aires, estavam em Rosário? Mesmo a data oficial de nascimento, 14 de junho, está em questão.

Segundo a versão oficial, os pais do futuro guerrilheiro estavam viajando da fazenda para a capital pelo rio Paraná quando ela começou a sofrer as dores do parto e tiveram que deixar a embarcação em Rosário. John Lee Anderson, biógrafo de Che, oferece uma explicação alternativa e que se opõe à da própria família. Como a gravidez começou três meses antes do casamento, o casal de classe alta preferiu se esconder em uma cidade onde não eram conhecidos. A data real de nascimento seria, na realidade, 14 de maio, mas eles só foram ao cartório em 14 de junho, para que a criança pudesse passar por nascida de sete meses.

O pequeno Ernesto Guevara morou bem poucos meses no apartamento de Rosário. Em dezembro de 1928, a família já residia em Buenos Aires e, anos depois, em Córdoba. A lembrança do local de nascimento do revolucionário foi apagada com o passar do tempo. Mas, após a queda da última ditadura militar, em 1983, foi reavivada. A proprietária do apartamento, de sobrenome Repetto, começou a receber visitantes ilustres. Em 2002, após o colapso econômico da Argentina, o empresário ítalo-argentino Francisco Farruggia viu no Corriere della Sera um anúncio da venda da casa onde nasceu Che. Em parceria com o empresário espanhol Manuel de la Rica (chefe de publicidade do EL PAÍS nos anos 80), ele encarregou o advogado local Horacio Baldoni de comprar o apartamento. E este fez isso.

Farruggia e De la Rica tinham grandes projetos para a residência. Queriam criar um centro cultural e envolveram pessoas ilustres de Rosário, como o escritor Roberto Fontanarrosa e a cantora Mercedes Sosa. Mas Fontanarrosa morreu em 2007, Sosa, em 2009, e os moradores do prédio se recusaram a aceitar a abertura de um museu ou centro cultural no local. Com o apartamento transformado em um santuário, cheio de fotos icônicas, mas sem possibilidade de acesso ao público em geral, apenas alguns privilegiados puderam visitá-lo nos últimos 18 anos. Pessoas como os próprios filhos de Che, o bioquímico Alberto Granado (que morreu em 2011), com quem o jovem Che percorreu de motocicleta a América Latina, e o ex-presidente uruguaio Pepe Mujica. O escritor Ernesto Sábato foi convidado, mas preferiu ficar no portal da rua, diante da placa comemorativa, como qualquer cidadão que percorre o chamado “circuito Che” em Rosário.

Os dois proprietários dizem que já se sentem idosos e querem se livrar de um apartamento vazio e caro de manter. Francisco Ferruggia disse à Infobae que já haviam recebido várias ofertas e que, apesar de não poderem fazer exigências ao futuro comprador, favoreceriam quem se comprometesse a preservar “a memória histórica do apartamento”.

A agência imobiliária apresenta assim a residência: “Um edifício de categoria, com estética elegante de época. Possui um hall de recepção, um amplo living, sala de estar com espaço de trabalho, cozinha separada com móveis debaixo da bancada e despensa, sala de jantar. Quatro dormitórios amplos com guarda-roupas, banheiro completo. Calefação central”. Não faz referência a quem nasceu naquele “edifício de categoria”.

 

Fonte: El País