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Carlos Moisés: “É a vez dos municípios assumirem responsabilidade como eu assumi”

Governador Carlos Moisés avalia que é hora dos prefeitos assumirem a responsabilidade pelas restrições no combate ao coronavírus (Foto: Maurício Vieira, Secom/Divulgação)

​Curado do Covid-19, mas ainda em recuperação dos desgastes físicos causados pelo coronavírus, o governador Carlos Moisés (PSL) volta à cena para rejeitar a crítica de que foi omisso ao não retomar o controle das medidas de restrições a atividades econômicas e de lazer para impedir o avanço da pandemia no Estado.

Moisés avalia que é o momento dos prefeitos assumirem as responsabilidades e garante que o governo do Estado estará ao lado das autoridades locais que decidirem ser rigorosos na restrição de atividades no momento mais preocupante que Santa Catarina vive desde o início da crise, em março.​

Ao mesmo tempo, o governador diz e reitera que o Estado vive um paradoxo: se não houver “o contágio controlado de parte da população não vulnerável”, a doença ficará mais tempo entre nós. Na conversa por telefone no final da tarde de quarta-feira, Moisés falou sobre as perspectivas de ampliação dos leitos de UTI no Estado e sobre a adoção por prefeituras dos medicamentos para tratamento precoce do Covid-19, que ele próprio admite ter usado.

Além disso, diz que pretende responder até o final da semana as 15 perguntas enviadas pela CPI dos Respiradores e acena com diálogo para os deputados estaduais e a para hoje opositora vice-governadora Daniela Reinehr.

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Leia a íntegra da entrevista exclusiva:

Como foi estar com a Covid-19 em meio à pandemia do coronavírus?

Eu me senti de certo modo um pouco frustrado porque peguei esse período do evento climático, esse ciclone bomba. Eu queria estar na rua, relembrando a profissão (bombeiro militar). Diagnostiquei positivo exatamente quando aconteceu o evento. Fiquei tentando manejar alguma ajuda aos municípios à distância, fiquei um pouco frustrado. Mas era um período que eu precisava, tanto que ainda hoje não estou 100%.

Como foi a ação do vírus sobre o senhor?

Acho que o pulmão é bom, por causa da apnéia (Moisés era competidor). Fiz uma respirometria, meu pulmão tem um volume maior que o normal, tenho uma boa condição física. Mesmo assim senti bastante dor na parte central do peito durante a tosse, uma tosse seca. O receio era de agravamento. Aí já entra com antibiótico, a azitromicina, para impedir doenças oportunistas, como uma pneumonia. Antes mesmo de positivar, comecei com ela um dia antes. Quando veio o resultado, entrei com as outras medicações, dialogadas com o médico.

Inclusive a polêmica hidroxicloroquina…

Sim, utilizei até os remedinhos para piolho, como diz um amigo (risos). A ivermectina, que já usei muito em animais, tanto na forma injetável quanto comprimidos. É usada para pessoas também. É um vermífugo, mas teria (diz com ênfase) um efeito antiviral. Da mesma forma a hidroxicloroquina, que usei por quatro dias, teria (com ênfase) um efeito antiviral em relação ao coronavírus. Assim como sulfato de zinco, que também teria (com ênfase) um efeito antiviral. Esses três, combinados com a azimotricina. Não é um pacote. São medicamentos que já estão disponíveis na rede de saúde, porque são utilizáveis para outros fins. Nenhuma delas é uma medicação nova que o Estado não teria. Em comum acordo com seu profissional, que pergunte se você quer usar ou o paciente demonstre interesse no uso, é importante que o médico dialogue, porque alguns pacientes não podem usar todos esses medicamentos.

Várias prefeituras estão adotando esse protocolo de tratamento precoce, que é bastante questionado também. Como o senhor vê essa adoção?

No nosso entendimento, o Estado disponibiliza para a rede própria. Eles estão na lista do SUS. Para quem vai ser utilizado, é um ajuste entre médico e paciente. Há uma linha muito tênue entre recomendar, prescrever e adotar como política pública e a outra é o diálogo entre médico e o paciente. Os medicamentos já existem e estão aprovados para uso da população, não para a finalidade que se apregoa (coronavírus). 

Mas não significa dizer que o Estado não permite o uso e nem disponibiliza. É permitido o uso, desde que haja diálogo com seu médico. Eu não posso impor essa prescrição, é entre paciente e médico.

Na segunda-feira havia uma expectativa muito grande sobre o governo estadual faria ou não um novo lockdown. O senhor acha que causou frustração de não voltar a intervir, manter essa decisão com os prefeitos?

Santa Catarina tem sido desde o início de março até hoje no ranking da CLP (Centro de Liderança Pública) o líder no ranking do combate à Covid. Pelos números, pela transparência e pelas medidas adotadas no tempo certo. Por mais de 90 dias o governo atuou. Em parceria, claro, com os municípios, com os hospitais, com o cidadão que respeitou a regra, mas as normas eram única e exclusivamente do governador e do governo do Estado. Chegou um momento e entendemos assim através de franco diálogo com a Fecam de que os prefeitos deveriam ter alguma autonomia para tanto flexibilizar quanto restringir atividades, de acordo com os quadros de cada região.

Nessa linha, a gente promoveu essa discussão, criamos normas, disponibilizamos ferramentas aos prefeitos. A gente entendeu que os municípios também não podem deixar de tomar as ações.

Mas o senhor acha que os municípios estão tomando as ações que seriam necessárias? Não estão se omitindo quando há necessidade de restringir?

Prefiro olhar o lado cheio do copo. O que a gente viu esta semana foram algumas regiões já tomando decisões. Às vezes não há adesão total na região, mas os municípios mais populosos aderindo a uma fechamento, uma restrição maior, para achatamento da curva para manejar a disponibilidade de leitos de UTI, a atividade da economia e a saúde das pessoas. Essa receita para nós é a do equilíbrio e talvez seja a única que temos hoje que funcione. Estamos diante de um paradoxo. Quanto tempo a gente quer a pandemia em Santa Catarina? Como vamos imunizar nossa população? Se tem a vacina, tudo certo. Mas não temos a vacina. O que nos leva a crer que as populações menos vulneráveis têm que na medida do possível, atividades essenciais, atividades empresariais com regramento, elas vão naturalmente tendo algum contato, que não pode ser de grande explosão de números, para que a gente possa conviver de forma responsável com o vírus, imunizando a população, chegando em um platô e entrando em uma curva descendente para sair da pandemia. 

É inimaginável que a gente vá ficar em casa três meses direto e chega lá em setembro sai para a rua e ninguém se contagia mais. 

Nós vamos ter uma segunda onda. Parece um paradoxo, né? Temos uma grande dificuldade de algo que nunca nos deparamos antes na vida, nossa geração pelo menos. Estamos trabalhando com muita criatividade e responsabilidade.

Mais do que a própria contaminação e a capacidade das pessoas se curarem do Covid-19, o grande medo sempre foi de um colapso no sistema de saúde. O senhor tem ressaltado que o número de leitos de UTI em SC foi aumentado em 70%. Até quanto será necessário chegar esse percentual? Continua descartada a ideia de construir hospitais de campanha?

Até pouco tempo nós fomos muito criticados por mencionar hospitais de campanha. Aí os nossos números eram muito bons e apanhamos porque estávamos exagerando por pensar em hospitais de campanha. Quando a gente chega no limite de algumas regiões de UTI com 80%, 85% da sua capacidade, 90%, agora as pessoas já estão clamando, e até autoridades: “onde estão os hospitais de campanha”. Como é algo desconhecido, muito novo, não há nenhum planejamento que supere a prática do dia a dia. 

Para sairmos da pandemia, há necessidade de um contágio controlado da população não vulnerável. 

Apesar de que a gente sabe que o vírus é tão nocivo que temos reações inesperadas, pessoas que a gente entende que não são vulneráveis têm vulnerabilidades que nem sabíamos que eram. Mas é um paradoxo: a gente só sai da pandemia quando houver uma margem de imunização da população de mais de 50%, com essa população não transmitindo mais o vírus. Aí se começa a isolar pequenas populações e se consegue controlar.

Mas qual o percentual de aumento de leitos de UTI que o senhor achar necessário atingir?

Hoje temos prontos para entregar aos municípios, com o governo federal disponibilizando 240 novos monitores, temos 240 novos respiradores para entregar. Isso pode ser colocado à disposição para montarmos UTIs nas regiões onde houver maior demanda. Mas isso não pode servir de estímulo para relaxamento da região como se fosse suprida, porque não é com estalar de dedos que a gente habilita um leito de UTI. Ele precisa estar com todos os equipamentos, que o Estado está disposto a entregar, precisa ter recursos humanos para tocar e precisa remunerar esse leito de UTI. Então, há toda uma programação que depende inclusive do Ministério da Saúde para que eles sejam remunerados. Nenhum hospital quer ter um leito de UTI que não seja remunerado (pelo SUS), porque a conta obviamente vai ser custeada por ele. Não faz nenhum sentido. Então, é um conjunto de ações. 

Acredito que a gente precisa ter, de forma regionalizada, um certo recuo em atividades que disseminam o vírus para tentar controlar sem ampliar (o número de leitos) que temos em todas as regiões. Temos recursos para ampliação de leitos, mas torno a repetir: habilitar um leito é todo um processo.

No primeiro momento do combate à pandemia o senhor falava diariamente com a população catarinense através de lives. Depois, o senhor se recolheu. Acha que falou demais?

Acredito que nossa postura foi de alertar a população naquele primeiro momento, chamar atenção pros graus de dificuldade. Depois tantos outros problemas foram surgindo, porque o governo é demandada por outros problemas. Tivemos seca, ciclone bomba, tornado, os próprios problemas na gestão de compras que todo mundo acompanhou (se refere à compra dos respiradores, alvo de investigação e CPI na Alesc). O secretário da Saúde continuou fazendo a informação, mas também entendemos que tudo que precisava ser informado à população havia sido feito. Acabei saindo de cenário, depois houve o contágio. Isso deu a impressão de que o governo deu uma sumida, uma recuada, mas não o houve isso.

Há uma crítica de que o senhor está se omitindo. Como avalia essa crítica?

Penso que a última acusação que podem fazer ao governador Carlos Moisés da Silva é de omissão. Fizemos lockdown em Santa Catarina quando essa expressão não havia no Brasil. Fomos o primeiro Estado a tomar medidas duras e generalizadas, em todo o território, trancando atividades que até diziam que não tínhamos competência para fechar. Tomamos medidas duras, contra nosso desejo, mas necessárias. Em nenhum momento houve omissão do governador. O que percebemos naqueles primeiros 90 dias era que os prefeitos reclamavam que a mão do governo era dura e genérica. Combinamos com todos que as medidas de flexibilização e restrição seriam gerenciadas de forma regional. Fizemos uma nova regra, um novo decreto, regulamentamos e disponibilizamos ferramentas. 

Não é omissão do Estado e nem do governador, mas sim que cada um assuma a responsabilidade que é devida pelo cargo, pelo ônus público que resolveu assumir. Como eu assumi. Agora é a vez dos municípios, se não sozinhos, de forma consorciada, tomar as decisões e não ter medo de tomar as decisões.

O senhor recebeu as 15 perguntas da CPI dos Respiradores por escrito na semana passada. Quando pretende entregar as respostas?

A vontade do governo é responder todas dentro do prazo que em que foi solicitado pela comissão (dia 17 de julho, sexta-feira). Apesar do prazo (legal) ser mais dilatado, nós vamos tentar entregar de imediato para a comissão.

O governo está prestes a completar três semanas sem secretário da Casa Civil. O senhor já definiu um nome ou um perfil para essa função?

É uma pasta que está sendo tocada pelo Juliano Chiodelli, que era o adjunto e assumiu interinamente. Enfim, ele está fazendo seu trabalho, atende os deputados. Hoje temos uma proximidade maior do nosso partido (PSL) do governo para aproximar os outros partidos. 

Ou seja, nós temos que trabalhar mais essa linguagem política e aproximar os deputados.

 Esse é um trabalho que o deputado federal Fábio Schiochet, que é presidente do PSL em Santa Catarina tem realizado, numa demonstração de que não é partido do governo, mas um partido que conversa com outros partidos. Esse é meu pedido para ele, que tem a aproximado a Casa Civil, através do Juliano. Ele como deputado federal tem envergadura para isso, está conversando com os deputados aqui, com o presidente Júlio Garcia (PSD), para que a gente possa evoluir, entender as demandas dos deputados, para que a gente possa ter uma certa estabilidade. Não podemos ficar só nos digladiando, tensionando.

Schiochet será o secretário da Casa Civil?

Ele nunca demonstrou essa vontade. Não tenho bola de cristal para dizer que nunca será, mas nós nunca conversamos sobre esse tema. É uma conversa que acontece mais fora do governo do que dentro. Ele veio para ajudar e faz um ótimo papel. Está faltando um azeitar da linguagem política e o Fábio traz bastante disso. 

O governo está aberto a conversar com os deputados e apoiá-los também, porque os deputados representam a população, o povo.

O senhor falou em tensionamento e atualmente a vice-governadora Daniela Reinehr é vista como uma antagonista sua. Pretende tentar se reaproximar dela?

Acredito que a gente nunca se afastou dela. 

Se houve algum movimento, alguma situação em que ela não tenha ficado satisfeita com um ato nosso, uma demanda, alguma falta de atenção em algum momento, obviamente que a gente pretende conversar com a vice-governadora. 

Não há nenhuma barreira impossível de ser superada. O diálogo franco deve existir porque o interesse dos catarinenses deve estar muito acima de qualquer pensamento divergente. Esse é o momento de nos aproximarmos. Tanto aqui quanto no âmbito do governo federal. A gente não coloca barreiras, às vezes a política coloca. Eu vou me esforçar para quebrar qualquer tipo de barreira que advenha de posições político-partidárias. 

Fonte: NSC