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Artista homenageia Mitologia Indígena em Projeto de Arte Urbana de Chapecó

O portal Barriga Verde produz uma série com todos os artistas escolhidos no Edital de Seleção de Projetos de Arte Urbana no elevado de Chapecó. Conheça a história da pintura que homenageia o povo indígena Kaingang criada pela artista Janaína Corá:

“Esse vermelho vem da natureza”. A escolha da cor ideal foi um dos cuidados da artista Janaína Corá, uma das vencedoras do Edital de Seleção de Projetos de Arte Urbana, que pintou as metades clânicas conhecidas como “Kamé e Kairu”, escolhidas para estampar uma das partes do elevado em Chapecó. A pintura homenageia a mitologia indígena Kaingang e também é uma continuidade das pesquisas iniciadas no mestrado de Janaína.

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A pintura contém uma escrita bilíngue, na língua Kaingang (Kanhgág jamã vỹ gé), que significa “aqui também é morada de povos indígenas”. O texto propõe a conciliação, a ideia de coexistência, senso de igualdade e respeito às diferenças culturais. “A nossa primeira história da arte que considero ‘não oficial’ é a história dos primeiros habitantes no território brasileiro, geralmente excluída ou vista com menor importância nos livros sobre história e história da arte”, enfatiza a artista.

O objetivo da pintura foi valorizar a presença indígena e provocar uma reflexão sobre a potência das riquezas naturais, a importância e grandiosidade da cultura indígena para o cuidado e preservação da vida. “Realizei na escola onde atuo ainda em 2018 um estudo na Aldeia Kondá, principalmente sobre as plantas curativas na sabedoria indígena. Por isso, automaticamente, pensei em fazer um projeto sobre as marcas Kaingangs, pois tinha curiosidade em entendê-las melhor”, explica Janaína.

A artista que também é professora de arte acrescenta ainda que buscou homenagear os povos nativos de Chapecó como forma de honrar e valorizar as origens étnicas e culturais. “Parece que já tínhamos aqui tudo o que precisávamos para viver bem. Talvez seja tempo de lembrar o que esquecemos e o que nos constitui enquanto povo. Conectar com o silêncio que nos habita para reaprender a escutar, perceber a morada do ser e sentir as forças potentes da natureza e do nosso entorno como os povos indígenas faziam e fazem. Portanto, a proposta artística quer homenagear os povos nativos de Chapecó”, explica.

Artista aposta nas cores da natureza para valorizar cultura indígena

Baseado em estudos da antropóloga Juracilda Veiga, a artista destaca que Kairu é simbolizado por um círculo vermelho e Kamé é simbolizado por uma linha na cor preta. “Por exemplo, o sol é Kamé e a lua é Kairu, as plantas, animais e todos elementos que fazem parte da natureza, são conhecidos pela etnia kaingang por Kamé ou Kairu. A leste da pintura, onde nasce o sol, estão representadas as linhas da metade kamé, que representam o dia. O círculo, representando a lua, está posicionado no Oeste, onde o sol se põe, à noite, marcando a metade Kairu. Ainda segundo as tradições kaingangs, os casamentos devem ser realizados entre as duas metades opostas, ou seja, um Kaingang da metade Kamé somente poderá se casar com alguém da metade Kairu”, detalha Janaína.

O estudo da artista também envolveu parceria com os kaingangs. “Todo projeto de cor, de imagem, de posicionamento, e a tradução para a língua Kaingang fiz em parceria com eles. Tive a ajuda do Duko Vãgfy e do João Batista Antunes, moradores do Toldo Chimbangue. Por exemplo, ao utilizar a cor vermelha fiz uma busca para encontrar uma tonalidade que se aproximasse das cores das sementes, a cor extraída do urucum, inclusive das penas das aves utilizadas nos objetos plumários, um vermelho que fosse mais próximo do vermelho da terra”, aponta.

Fonte: Barriga Verde Notícias

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