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Alunos e pais de SC esperam plano de volta às aulas presenciais

Janaína Consuelo de Oliveira Urnau e os filhos Caio, seis anos, e Anaelice, nove, na hora de fazer as atividades escolares(Foto: Diorgenes Pandini / NSC Total)

A gente olha no calendário e quase nem acredita. Entramos no segundo semestre de 2020, ano marcado pela desgraça do novo coronavírus. Há seis meses o mundo tenta se reconfigurar.

Assim como a saúde e a economia, a educação foi atingida naquilo de mais sagrado: o contato entre aluno e professor. Neste momento temos 1,5 bilhão de estudantes no mundo, da educação infantil ao ensino superior, sem frequentar a escola. A pandemia se arrasta e a perspectiva da volta presencial das aulas para este ano parece difícil, mas há um sentimento comum: a espera por um plano de volta às aulas.

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O coronavírus trouxe um novo paradigma para a sociedade que, só 20 anos depois, deu-se conta que o século 21 chegou, sugere a psicopedagoga Albertina Chraim:

— Lá trás, quando se falava de um mundo cheio de tecnologias, a gente não entendia muito bem. Agora estamos vivendo um momento inusitado, onde os efeitos da pandemia serão permanentes e exigente de uma profunda interação entre escola, aluno e pais.

Para Albertina, o tripé ensinar, aprender e interagir exige, a partir de agora, a participação da família de uma forma diferente do experimentado até então. O professor, por sua vez, ficará mais exposto, já que os pais poderão acompanhar o desempenho dele junto ao aluno e, inclusive, questioná-lo acerca dos conteúdos e até da forma como apresentados:

— Costumo dizer que o professor não estará mais dando aulas para os alunos, mas para a família deles também.

A psicopedagoga chama a atenção para outro fator trazido pelo inusitado, o fato dos professores não terem a competência para lidar com algumas ferramentas tecnológicas:

— O sistema terá que dar conta disso criando novas metodologias, pois o professor atual não foi formado para dar aulas a distância, especialmente, para crianças e adolescentes – diz.

Além disso, explica, a educação tem que pensar como dar conta deste processo já que as crianças precisam continuar aprendendo. Por isso, defende, o Estado deve investir nas novas modalidades que, obviamente, não podem aumentar as desigualdades sociais que já são grandes no país.

— É preciso um investimento grande que inclua plataformas de longo alcance e que necessariamente não dependam da internet. A televisão, por exemplo, pode ser um meio interessante de levar mais conteúdo a todos os alunos e contemplar aqueles ainda não inseridos no mundo digital – sugere.

Albertina acredita que para 2020 não há mais o que fazer:

— A questão está no pensar para a partir deste momento, é isso que devem fazer os poderes: pensar como montar um plano que contemple a todos os alunos, independente das plataformas.

Apesar do cenário de urgências, Albertina consegue ver coisas boas neste momento inusitado:

— Acho que a Covid-19 devolveu os pais para os seus filhos.

Retorno presencial em agosto, diz Secretaria de Educação

Enquanto isso, na segunda-feira, 29, a Secretaria de Estado da Saúde publicou uma portaria que regulamenta os protocolos para o retorno das aulas presenciais do ensino superior em Santa Catarina.

Outra portaria também estabelece as medidas para permitir as aulas práticas de cursos técnicos no Estado, com exceção dos cursos técnicos das escolas da rede estadual de ensino. Ambas as portarias entram em vigor a partir desta segunda-feira, dia 6.

As aulas presenciais nas redes privada e pública, nas esferas municipal, estadual e federal, incluindo educação infantil, ensino fundamental, nível médio e educação de jovens e adultos (EJA) seguem suspensas até o dia 2 de agosto. Mas o retorno das aulas presenciais também está condicionado ao resultado da Avaliação de Risco Potencial para disseminação da Covid-19 na região.

Todos os municípios que pertencem a uma região em nível considerado “gravíssimo” devem ter as aulas presenciais suspensas. Os municípios das regiões em nível “grave” e “alto” devem manter as aulas presenciais de forma alternada, limitando o número de estudantes a 30% e 50%, respectivamente. Municípios de regiões com risco “moderado” podem manter as aulas presenciais, respeitando o distanciamento de 1,5 metro entre os frequentadores.

O Ministério da Educação definiu um protocolo para a retomada gradual das aulas nas instituições do sistema federal de ensino. A portaria foi publicada quinta-feira, dia 2, no Diário Oficial da União, e diz que o cronograma de retorno das atividades deve ser orientado pelo governo local e pelas autoridades sanitárias.

Menos renda das famílias atinge educação infantil

A crise econômica gerada pela pandemia da Covid-19 também alcançou a educação infantil privada. Desmatricular filhos pequenos tem sido o caminho de muitas famílias que tiveram a renda diminuída. Por lei, o ensino é obrigatório a partir dos quatro anos. Sendo assim, as turmas com crianças de zero até quatro anos incompletos são as mais atingidas.

Alguns pais se dizem insatisfeitos com o ensino remoto para os pequenos, mas é a questão financeira que mais pesa.

Mãe de um bebê e de uma menina de três anos e meio, a administradora Juliane Brand Flores Piovesan reconhece a importância da escola para o desenvolvimento de uma criança. Mas optou em suspender o contrato com a escola particular por questão de economia.

Assim como outros pais que encurtaram a renda, ela tentou negociar valores enquanto as aulas tivessem suspensas. Como não houve acordo, optou por contratar uma babá. Juliane conta que foi preciso organizar uma nova rotina de atividades, já que antes a filha almoçava e já se preparava para a escola.

O quadro atual inclui hora de brincar, ver TV, merenda, banho, jantar. Juliane considera a iniciativa bastante vantajosa, pois percebe que a menina fica mais segura sabendo sempre o que irá fazer. Apesar disso, a mãe que espera uma definição:

— Por mais que a gente se esforce, a socialização com os colegas, o frequentar outro ambiente e as brincadeiras com as crianças são ganhos para o desenvolvimento dela. Sei que ela (a filha de três anos e meio) sente falta do parquinho e dos colegas, mas é um momento diferenciado e cada família busca um jeito de se adaptar e atravessar a pandemia.

Situação parecida experimenta Gabriela Althoff, que com o marido Du Pereira, tem uma agência especializada em marketing digital, branding e criação de conteúdo. Gabriela considera que a escola particular deveria apresentar uma redução maior do que os 30% sugeridos pela direção da instituição:

— Mais recentemente é que a atividade com que trabalhamos foi retomada. Como todo mundo, também sofremos redução na renda devido ao isolamento social e entendemos que a escola poderia ser temporariamente cortada – explica.

Mas Gabriela reconhece que o menino sente falta dos colegas. Por isso, sonha com o fim da pandemia, a flexibilização de valores e a recolocação do filho na escola.

 

Fonte: NSC