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O uso da cloroquina para o tratamento de pacientes com a Covid-19

Médicos especialistas divergem sobre o uso de cloroquina e isolamento

CNN recebeu, neste sábado (16), médicos com opiniões divergentes sobre os principais tópicos debatidos para a luta contra o avanço do novo coronavírus no Brasil.

O uso da cloroquina para o tratamento de pacientes com a Covid-19 e o isolamento social para tentar evitar a disseminação da doença foram os temas abordados com os especialistas. Veja abaixo os principais destaques.

Cloroquina 

Natália Pasternak – microbiologista e pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP)

“O tema [sobre o uso da cloroquina em pacidentes com Covid-19] é controverso por questão de incompreensão de como a ciência funciona. Precisamos confiar na ciência para gerar o conhecimento pra que façamos o uso adequado de medicamentos e vacinas.

A cloroquina já foi testada para inúmeras outras doenças e viroses e nunca funcionou. Nunca foi um bom antiviral. Até agora, ela era uma droga candidata para tentar auxiliar no tratamento da Covid-19, em uma possível ação antiviral.

Vários estudos publicados nas melhores revistas de saúde já demonstraram que a cloroquina e a hidroxicloroquina não funcionam para pacientes graves, leves ou moderados. A cloroquina não funciona para nenhum momento da doença.”

Ricardo Azêdo – reumatologista e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

“Eu discordo da colega, pois acho que a hidroxicloroquina tem um papel importante nas fases iniciais [da Covid-19]. Já temos evidências de que a medicação diminui a entrada do vírus na célula, e ela também pode reduzir a resposta inflamatória.

Alguns estudos demonstram benefícios interessantes da hidroxicloroquina, entre eles, mostrando que a imagem pulmonar melhorou.

A hidroxicloroquina é mais potente e menos tóxica do que a cloroquina. Há bastante evidência indicando a positividade [do medicamento contra o novo coronavírus].

Mas temos que entender que a ciência também tem limitações. Estudos feitos com pacientes internados não vão funcionar porque ela não tem efeito bom com pacientes que estão em unidades intensivas.”

Dante Senra – cardiologista e PhD pela Universidade de São Paulo (USP)

“Nós fomos aprendendo, durante o tratamento, que a doença tinha muitas fases e momentos diferentes. Eu estou convencido de que existam sim medicamentos que têm um poder de ação [contra o novo coronavírus], que pode ser limitado, mas é o que temos no momento. Existe um fundamento teórico para o uso da cloroquina, mas a prática, infelizmente, teremos no dia a dia.

Um argumento contrário é que [o uso da coloroquina] pode potencilizar os sintomas, mas isso é de todo medicamento e esses efeitos colaterais são mensuráveis. Por isso defendo que não devemos usar cloroquina indiscriminadamente na população geral.

Precisa ficar claro que ela não é a cura, não é um passaporte para sair do isolamento, mas é um medicamento que diminui a probabilidade de complicações.”

Isolamento social

Natália Pasternak – microbiologista e pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP)

“O isolamento social é a única ferramenta que temos hoje para combater a Covid-19. Na ausência de medicamentos específicos, que não temos, e esperando ainda uma vacina, o único modo da gente conter a disseminação da doença e ter certeza que teremos condições de tratar quem precisar de internação hospitalar é o isolamento social.

É nossa única ferramenta e não estamos utilizando de forma adequada. Nós precisamos levar mais a sério as restrições de distaciamento social, de medidas preventivas. Precisamos de maior adesão da população e esclarecimento dessa medida.”

Ricardo Azêdo – reumatologista e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

“É importante reduzir o contágio o máximo possível. Acho que, neste momento, estamos todos aprendendo. Ainda não existem grandes certezas sobre muitas coisas. É importante o isolamento social, mas ainda estamos aprendendo como fazer [de forma correta].

Também é importante associar isso com outras medidas, como a testagem da população, para que tudo isso junto possa ser o máximo eficaz possível, além de otimizar nossa vida no hospital para receber os pacientes.”

Dante Senra – cardiologista e PhD pela Universidade de São Paulo (USP)

“Concordo com os dois colegas que o isolamento é a medida mais efeciente, se não a única, porque, de fato, existem evidências de alguns medicamentos [para o tratamento da Covid-19], mas não existe comprovação científica.

Isolamento é fundamental para conter a disseminação e proteger a rede hospitalar. Além disso, ficando em casa é possível diminuir a circulação de carga viral na sociedade.”

 

Fonte: CNN Brasil